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O mundo é cheio de mentiras, umas
bondosas, outras maldosas, mentimos para agradar, mentimos para não magoar e
num turbilhão de mentiras precisamos impor com juras as nossas verdades e tudo
que há de sincero.
É um desperdício ficar jurando por
tudo e por todos, antes eu jurava muito pela minha felicidade, não tem nada que
cada um não almeje para si do que a própria felicidade, jurava pelo bem-estar
da minha família e com o tempo comecei a me sentir constrangida em jurar, você
é livre para acreditar assim como eu sou livre para as mentiras escapadas de
que você não está gordo para não te magoar.
Não me leve a mal, mas nada melhor do
que um bom espelho, uma boa balança e o cálculo do IMC feito através da
internet, você poderia me poupar do constrangimento de dizer que estais gordo e
feio ou da mentira em dizer que você está ótimo e lindo, por favor, não me faça
perguntas cujas respostas são incômodas.
O que tem que ser, tem que ser, ou
como diz à música o que será que será, sou carismática, atraio e faço amigos
com facilidade, gosto gratuitamente e gosto pra valer, consigo doar a única
coisa que tenho sem apegos, mas não tenho compulsão para ser aceita, não morro
se um amigo ou outro o vento leva, não deprimo se você teve tempo para gostar e
agora está no tempo de desgostar, as coisas são mutantes mesmo, são mutantes
para mim e para você.
Não tenho dificuldades em largar o
osso, em soltar a mala, em desapegar das essências antigas, sou calma quando
preciso, mas minha natureza é agitada, basta dizer que rolo a noite toda, falo
enquanto durmo e chuto quem estiver por perto e que ainda tenho noites insones
se o companheiro resolver dormir agarradinho, não consigo dormir grudada em
ninguém, minha melhor posição é bunda com bunda e com espaço entre elas.
Gosto de pegar um livro para ler
antes de dormir com sérios riscos de ficar acordada a noite toda, de gargalhar
acordando os vizinhos e a pessoa do quarto ao lado ou ainda de arrepiar os
pelos da minha gata.
Comecei a achar ridículo ter que
jurar, ter que começar a conversa tentando quase que, por favor, ser acreditada
por quem me ouvia, não confia no que falo, nas coisas que leio, nas escritas
que redijo, não confia nem um bocadinho em mim, nossa relação pode se desligar,
podemos acabar a parceria, a amizade, o afeto, não há mal nenhum nisso, as
coisas se reconstroem, não é blefe, estou falando sério, o que não dar é para
eu fingir que convenço e você finge que acredita. Cansei! Perdi a paciência!
Falta confiança da minha parte
também, tenho a intuição que você seca a minha pimenteira, quando tudo de bom
me acontece, você lança aquele sorriso amarelo, não sei se é falta de caráter,
se é pontinha de inveja, se é falta de respeito, só sei que percebo e sinto,
você fingia ser quem não era.
São as surpresas da vida, as rotinas
áridas, a inauguração do mundo adulto pouco aprendido (ainda hoje não sei viver
muito nesse mundo), os acontecimentos tristes, a falta de vergonha e a vida
do jeito que ela se apresenta rodeada do bom, rodeada do mau.
- Arcise Câmara
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