A maioria de nós
não tem nenhum amigo ou parente preso, não é tão comum, mas e as pessoas que
têm e que precisam passar por humilhações na hora das revistas, ou ver seu
parente tratado de forma relapsa, onde não há a menor privacidade ou
intimidade, num espaço pouco à vontade e desumano.
Basta uma operação
pente-fino, uma humanização nos atendimentos, celas limpas e cheirosas, razões
claras para que o ambiente seja propício a reflexão e não a revolta, nada de
aglomeração de gente espremida e fedorenta por falta de ventilação.
Um lugar para se
respirar melhor, um lugar para pensar nas soluções de uma vida nova e melhor,
não um lugar de pavor, de destruição da autoestima, de paralisia “cerebral”, ou
de autoritarismo desmedido ou grosserias irritantes.
Nada, nem ninguém,
atenuou o problema carcerário, cada preso que entra em uma cela indigna, cria-se
outro problema e é por isso que muitos não voltam depois do natal, e é por isso
que os problemas só reaparecem cada vez mais graves.
Talvez o sistema
carcerário não traga nenhum voto, mas e muito contribuirá para uma sociedade
melhor no futuro, onde eu crio oportunidades e segundas chances para a
integração na sociedade, onde o sentimento de confiança no estado possa mudar
posturas, onde os amigos apoiam a mudança de vida dos que lamentavelmente
erraram.
O sistema
carcerário envolve perdas significativas para todos os envolvidos, inclusive
para mim e para você que somos partícipes indiretos nesse reflexo para nossa
infelicidade, lamentavelmente não podemos chorar depois que o leite se
derramou.
Não falo de política
de boa vizinhança, não falo no tudo ou nada, falo de gente, de desconfiar e
confiar, de vida satisfatória onde quer que seja, falo na oportunidade de
emprego, na garantia do sustento do filho, na vida feliz.
Um dia nos
cansamos do mal que fazemos e queremos a todo custo recomeçar, porém recomeçar
com dignidade, com a sorte de iniciante, com os cuidados de que é preciso para
não cair nas tentações do dinheiro “fácil”, uma vida em que cada um tenha 10,
20, 30 anos para pensar a respeito, sem a carência da falta de atenção, sem os indícios
das estatísticas.
Aceitar os
desígnios da nova profissão, apaixonar-se pela vida, perceber as verdades e
felicidade de ser honesto, felicidade construída a cada seis anos, com metas,
planos, força, foco, esse é o desejo de vários presidiários.
- Arcise Câmara
- Crédito de
Imagem: Editora Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário