Você questiona Deus sobre o que está
acontecendo, tem vergonha do diagnóstico, câncer de mama do lado esquerdo do
seio, as pessoas te dizem que a causa é as mágoas, um acerto de conta do seu
organismo com sua cabeça mal resolvida.
Aquilo te deixa ainda mais desorientada, você
tem câncer e a culpa é toda tua, foram seus traumas não resolvidos, foi seu
descontentamento com a vida, foi aquele fora mal digerido que levaste do teu
primeiro amor, foi o desrespeito por si mesma sem a prevenção de se tocar a
cada mês, sei lá quantos dias antes da menstruação.
Foi à falta de perdão ou da caridade, foi o
fingimento de ter que aguentar sua sogra com um sorriso nos lábios. Sua mente e
seu comportamento fizeram de você uma doente quase incurável que precisará de
processos dolorosos de radioterapia e muita quimioterapia acompanhada de
vômitos e náuseas.
Condenaram você ao luxo da ignorância, a
culpabilidade de arrumar responsável por tudo ou é gene ruim ou é a somatização
dos seus problemas, a falta de confiança em si mesmo, hora de pensar positivo
para não se afundar de vez.
Tudo tem que se encaixar em algum modelo, as
respostas para todo o sofrimento. Calma! Para algum bem essa doença veio, ter
câncer não é um hobby de como identificar as causas, as mudanças que devem vir,
as energias desperdiçadas. Ter câncer é lutar pela nossa vida, em nada vai
adiantar saber as origens e ficar com a cabeça no passado. A cabeça tem que
estar no presente, na cura.
Não há tempo de reagir, o essencial é focar
no tratamento, no invasivo tratamento, passando pelos sustos, pelos medos, pelas suposições de que
os exames darão outros rumos, rumos melhores, cujas expectativas atinjam a
todos e como se livrar dos preconceitos que as pessoas querem deixar bem vivo
dentro da gente.
Junto com a cura do câncer, deve-se curar o
coração, não é por mal nem premeditado, é a forma como as pessoas acham que
ajudam, com declarações surpreendentes e sem qualquer moderação.
Você doente se cerca de pessoas erradas,
querem destruir a pouca fé que ainda te resta, querem libertar da deficiência
que a saúde te impõe sobre o discurso de “sei o que estou dizendo”, sem
perceber que a enferma está sendo devorada por dentro.
- Arcise Câmara
- Crédito de imagem: acidadevotuporanga.com.br
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