Minha beleza
mudou, sua companhia não é um bálsamo reconfortante, não sou tão bonita quanto
na juventude, sua distração continua a mesma e eu num jogo de emagrece e
engorda com dezenove quilos a menos.
Melhoramos como
pessoas, conquistamos espaços profissionais, casei, separei, estamos solteiros
e a vida nos reencontrou. Confesso que tinhas muitas lembranças ruins ao seu
respeito, lembro de vários comentários inapropriados que não precisavam ser
ditos.
Você envelheceu,
tornou-se grisalho e sereno, eu e raras vezes quis ter contato. Passava mil
coisas pela mente, mas ficaria em apuro em revelar amargamente tudo que penso
sobre você.
O ano inteiro
esperei por declarações que nunca vieram, avaliei minha aparência como desculpa
ou defeito para o desamor, eu empenhei a alma por uma relação satisfatória com
você, eu me desinstalei do cérebro.
Nada funcionava,
aliás, só piorava, era trabalhoso tentar se sentir aceita pelo namorado, quando
o mesmo namorado poderia demonstrar insatisfação e romper, mas ao contrário me
tratava como última alternativa, sem entusiasmo, sem a coragem de se livrar de
algo tão mais ou menos.
Preparei-me para
te bombardear com perguntas, pegar-te de surpresa, tentar compreender todas as
situações não explicáveis, eu não queria entender a dor da rejeição ou do
sumiço eu queria apenas suportar a verdade de saber que sua cabeça quer me
amar, mas seu coração nunca conseguiu fazer brotar o sentimento.
Eu estremeci por
dentro pensando em tudo, não fazia sentido sofrer por um passado remoto que não
causava saudades, porém, esse encontro era a sensação excelente de liberdade,
de perceber a felicidade de não estarmos em sintonia.
Éramos duas
pessoas vazias tentando se preencher, vazio + vazio = mais vazio. Éramos dois
surdos querendo ouvir barulhos. Para você eu precisava tentar novamente, para
mim era apenas uma perda de tempo.
O encontro
tornou-se silencioso, o espaço parecia pequeno demais, a privacidade não
existia, eu que já me derreti por você não sentia nada, eu que sou adepta da
amizade entre ex refleti que não é algo tão necessário assim.
Fico apenas
intrigada com sua insistência, reflito sobre o porquê de se fazer presente. As
coisas não combinam entre si. Você não pretende sair da casa dos pais, nem
comprar o próprio apartamento, nem encarar as contas, assumir a maturidade da
idade. Você tem o interior preenchido por arrogância. Não mudou muita coisa,
mas para mim foi bom vê-lo, colocar um ponto final na sua história porque na
minha essa fim já existe.
- Arcise Câmara
- Crédito de
Imagem: passarinhosnotelhado.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário