Ah cansei, de posso isso não pode
aquilo, ele pode isso e ele não pode aquilo, podemos tudo desde que não façamos
aos outros aquilo que não gostaríamos que fizessem com a gente. Chega de regras
convencionadas. Nada de mandar marido dormir no sofá, tirar aliança a cada
briga, compartilhar senhas. Viva a individualidade!
Senti minha relação um pouco
melhor, o tédio resolveu sair de casa, não houve conversa sobre o assunto, não
foi necessário brigar, eu apenas abri a porta da liberdade, do bom senso e das
não regras.
Eu acho que ele sentiu alívio, eu
deixei uma boa impressão com tantas mudanças de atitude. Cansei de ter vida
monótona, cansei de o sacudir com força para que ele não fizesse isso ou
aquilo, cansei de pensar que não era nada pessoal, era apenas a preguiça em não
fazer nada, em não ajudar nas atividades domésticas.
Eu me sentia esquisita também com
cobranças vindas de todas as direções me avisando como eu tinha que me comportar,
que eu não podia escrever tal texto porque soava uma paixão reprimida, ou ainda
o ciúme das palavras que pintavam em minha mente.
Fiquei um bocado mal humorada,
queria tornar meu relacionamento leve, levíssimo, uma pluma, um bem-estar que
eu não sei muito bem explicar, mas não queria cobrar nem ser cobrada o amor e o
sentimento nobre de se sentir feliz sem perspectivas.
Já tínhamos vida em comum, contas
equilibradas, relacionamento pessoal respeitoso e intenso, esporádicas brigas
sob a culpa da convivência permitida e com o escancarar de um monte de defeitos.
Tenho certeza que nossa história
não acaba nunca, amenizamos nossos defeitos, projetamos as qualidades,
frequentamos lugares deliciosos para espantar a rotina, respeitamos o silêncio
do outro, suas reservas, seu individualismo, sua simplicidade, seu jeito de
cidade do interior.
Somos atentos a tudo que possa
machucar a relação, só para contextualizar aprendi a falar sempre nós ao invés
de eu.
Nos unimos no mesmo ano que nos
conhecemos, a gente se conheceu em fevereiro e nos unimos em setembro, apesar
do pouco tempo não era pressa e sim vontade de estar juntos, de ser felizes
mais de pertinho.
Acostumamos pessoas a não se
meterem na nossa vida, tudo que nos ronda é problema nosso, não queremos ou permitimos
invasões, permissividade e efeitos colaterais de quem só julga e não convive
debaixo do mesmo teto.
Amamos o prazer de estarmos
juntos, sempre que surge alguma ideia ou projeto para o outro é a título de
sugestão, nada é imposto e não nos ofendemos com facilidade, adequamo-nos as
várias situações que a vida nos impôs.
Tem quem faça pouco de mim, quem
não acredita nesse relacionamento, quem acha que eu sou dominadora e exigente,
quem tem certeza que casamentos não funcionam para mim. Sou forte e quero
sentir força e complementariedade com quem decido viver junto.
Cada um tem seu espaço, suas
oportunidades, seus sonhos que parceiro nenhum pode destruir, suas paixões a
ser mantida, risos e lágrimas. Ele romântico e eu pragmática, ele minimamente
detalhista e eu desligada, porém nossa atração só fortalece esse amor que se
consolida a cada dia.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: veja.abril.com.br
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