Mais fácil e menos confuso é entender que não
se força o amor, que amar é ter nossa liberdade, que cada dia, cada hora, cada
minuto merecem ser apreciados e que amar não é escravizar alguém.
Muitas correntes são consequências das nossas
escolhas, das nossas “aparências diante da vida”, da importância que damos a
quem dificilmente se importa de verdade com a gente, ou estão à procura de beleza
ou lutam pelo inevitável, não ficar sozinhos, mesmo que para isso escolhemos as
más companhias.
Ele trouxe felicidade e encanto para minha
vida, foi risonho, manteve as aparências, independente, acolhedor. Amávamos
apesar de tudo, apesar de sua insistência em me afastar do mundo, apesar do seu
autoritarismo e de suas reclamações constantes de falta de amor.
Seu amor preenchia o vazio em mim acumulado
por décadas, à causa de tudo era a minha carência, o não conhecer-me, as reclamações
de mim mesma, o relacionamento era menos real e mais uma tábua de salvação, era
o alívio e a necessidade dos meus propósitos, as expressões de amor dos filmes.
Ele era de deixar qualquer um maluco, de
poucos amigos, com rudeza nas palavras, com exigências esquisitas, cheios de desafios,
impasses, descobertas, brigas, alegrias e sofrimentos. Eu o aceitava como ele
era.
Um homem realmente intranquilo, marcado por
uma infância rejeitada, por pais ausentes que só pensavam em trabalhar, o mundo
não tinha muito a ver com ele, era espantoso como ele pode ter absorvido tanta
coisa ruim, das experiências negativas os frutos são geralmente bons, mas não
para ele.
Ele nunca permitiu esquecer o amor do
passado, ele tinha dificuldade em ser rejeitado, ele não tinha forças para
fazer nada, queria a todo custo aquele amor irreal, queria abrir caminho e se
sentir aceito, queria de vez em quando tentar ser feliz aprisionando quem
estava perto.
Claro que ele errou, todo mundo erra, era tão
inconsciente, tão familiar aquela
dinâmica de fazer suas próprias leis, suas regras, seus mandos, eu na altura do
campeonato já ria de mim mesmo.
Nunca foi uma união real, dinâmica, ativa,
nunca foi acertada a escolha de viver assim, eu tinha medo de tomar a decisão
sozinha, tinha medo até de ser morta por conta da contrariedade que ele
sentiria, não havia sinal de crescimento ou de amadurecimento. Eu me joguei
numa piscina rasa e bati com a cabeça no azulejo, era difícil me "desrelacionar" sem as consequências penosas do “amor forçado”.
- Arcise Câmara
- Crédito de imagem: http://psicoterapiacinthyabretas.blogspot.com
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