Oi! Como vai? Tudo bem? Apesar de nutrir um carinho enorme
por ele, a amizade não flui naturalmente, não há assuntos suficientes para uma
conversa além de cinco minutos, não há nada a ser dito.
Isso é verdade? Estais falando sério? É mesmo? São
perguntas incrédulas diante de tantas coisas que ele quer me contar. A
impressão que dá é que eu fico o tempo todo duvidando de suas mudanças.
Nos encontramos casualmente, eu tive a eterna dúvida entre cumprimentá-lo
ou não, apesar de nossa muita intimidade do passado, percebi que a intimidade
não é para sempre, você simplesmente pode deixar de ser íntimo.
Opto por não falar nada mais delicado, superficialidades,
amenidades, televisão, revistas, assuntos do momento como morte de alguma
celebridade são suficientes bons para uma conversa agradável.
A sensação é muito intensa, tentar ser amiga de alguém que
não foi teu amigo no relacionamento, que não foi legal, companheiro, gentil,
amoroso, virar amiga de quem só te desgostou, mas e os filhos?
Desviava a atenção e focalizava no bem comum das crianças
que nem são tão crianças assim. Por mais bizarro que possa parecer, não queria
meus filhos achando que a separação nos tornou piores.
Franzi a testa, quando ao mesmo tempo que estava tentando
me concentrar na conversa, estava também pensando nas mágoas que estavam
borbulhando dentro de mim.
Não era nem um pouco divertido fingir paz e amor em função
das pessoas que mais amo na terra. Soava estranho, como se eu perdesse a
identidade, como se eu estivesse mascarando coisas e lutava para não ser tão
superficial e problemática, eu não seria nem a primeira nem a última mulher a
ter de me adaptar e fazer a política da boa vizinhança.
Se você quiser eu posso ser mais cordial, mais afetuoso,
mais risonha, mais gente boa, eu poderia me esforçar mesmo para ter uma amizade
verdadeira, colocar amor fraterno onde não existe amor em lugar nenhum.
Minha voz ficou mais suave, meus pensamentos mais leve,
minhas aflições diminuíram, eu não esperava nada dele, mas esperava tudo de
mim, esperava bom senso e uma amizade que não me prejudicasse, porque fingir
estava me prejudicando ao extremo.
Olhei feio para mim mesma em frente ao espelho, mudei
semblantes, treinei falas e gestos, parecia uma atriz passando o texto, ficava
incrédula até onde a minha imaginação me levava. Sim. Eu tinha que imaginar a
resposta do outro. Meus ensaios não eram um monólogo.
E daí que parecesse doida, maluca ou com parafuso a menos.
Pouco me importava, o que de fato importava e muito era ter o controle da
situação.
Eu queria uma demonstração dele de paz, queria entender o
seu lado, será que para ele tudo suaria como natural? Será que apenas eu tinha
dificuldade de por esta amizade de pé?
Coloquei tentação no meu caminho, comecei a namorar, a
construir um relacionamento entre o atual e meu casal de filhos e a amizade com
o pai das crianças que ao meu ver estava super fortalecida, desabou. A guerra
começou.
Ele tocava em mim e dava alguns indícios de que tínhamos
uma amizade colorida, ele ia além, só não estava comigo porque não queria,
segundo o convencido de uma figa.
Ele me queria com todas as letras mas jogava a
responsabilidade em cima de mim. Eu não sabia como agir, o que fazer, eu
negava, dizia que aquilo não tinha fundamento, eu nunca quebrei a confiança do
meu relacionamento, mas ele tinha o direito de se manter inseguro.
Eu gostava de algo simples, uma conversa, um sorvete, uma
praia, mar, sol, lua, ele gostava de toda a tecnologia de ponta, enquanto eu
queria passear de charrete, ele queria andar de nave espacial. Porém nos
respeitávamos e numa hora eu cedia e na outra ele.
Gostávamos de dormir, éramos dois dorminhocos para sempre,
ele achava lindo o meu pior defeito, meu jeito mandão o cativava, quanto mais
feliz eu estava menos papo eu tinha com o pai das crianças, ficou cada vez mais
desnecessário criar vínculos, batava que criássemos respeito.
Eu me concentrei em mim, as crianças poderiam, amar e
paparicar o papai e não precisava amar e paparicar o namorado da mamãe, bastava
respeitá-lo.
Ontem à noite foi um paraíso, jantamos ao ar livre, saímos
para tomar sorvete, brincamos de banco imobiliário e relaxamos do estresse
diário.
Eu não posso responder ou generalizar que amizade com o ex
não dar certo. Dá certo sim! Só precisa administrar os ressentimentos. Uma
coisa que aprendi é que ninguém tem ressentimento de cachorro morto, o perdão
flui automaticamente com a morte dos sentimentos. Não dá para ser rancorosa com
quem você nem ama mais.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: http://conversasdeprimos.blogspot.com
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