segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Carinha assustada


A situação era bastante grave, meu melhor amigo estava doente, bem doente. AVC duplo em poucos meses, lado direito paralisado, pouca vontade de viver, muito choroso e com medo.

Nós todos estávamos com medo, mas era preciso usar o escudo de fortes. Foram tomadas todas as medidas necessárias para que ele melhorasse. Melhor hospital, melhores médicos, medicamentos na hora certa.

Pedi a palavra para dizer tudo que nunca tinha dito, para declarar-me, para exaltar suas qualidades, para estar mais próxima, afinal a correria do dia a dia nos afastava.

Demonstrei amor todos os dias, visitando, ligando, me forçando a entender sem traduções sua fala pesada e quase incompreensível, estimulei-o a lutar pela vida sempre.

Encontrei-o por muitas visitas dormindo, exausto, cansado de tanta medicação sonolento, cansado até de viver, de melhorar, de ir para casa com sua família e se adaptar a nova vida cheia de limitações.

Eu era sempre bem recebida, quem não gosta de visitas alegres e falantes, eu levava alto astral para o hospital, conversava com todos os doentes em volta, era uma festa.

O caso não era brincadeira, ele não tinha data para ter alta e não tinha garantias de sobreviver, mas estávamos todos esperançosos, felizes em curtir mais um dia, mais um e mais um. Assim vivendo aos pouquinhos, usufruindo o presente.

Eu toda valentona, tinha medo da morte, tinha medo da passagem, tinha medo de chorar um luto, eu tinha e ainda tenho, nunca me sinto preparada, mas vamos logo mudar de assunto porque o foco aqui é positividade, saúde e cura.

Desaforada como sempre, ninguém brinca com a morte, então eu me recolhi e mentalizei que eu precisava estar preparada para o pior ou para o melhor. Eu ainda tenho esperança que ele vai sair dessa, vai durar mais anos. É um jovem senhor, cheio de sonhos.

Morri de medo, morri de vontade de proteger meu pai em especial, acho meu pai mais fragilizado que minha mãe, talvez pelo seu coração cheio de rancor, com pouco perdão.

Minha vida também corria perigo, eu poderia morrer a qualquer momento. Eu não estava num leito de hospital, mas também poderia ser alvo de assassinato, imprudência no trânsito ou qualquer outra desculpa para ter a minha vida interrompida precocemente. Acontece com outras famílias, poderia também acontecer comigo.

E foi então que percebi a importância de estarmos sempre saudáveis, saudáveis nas ações, nas palavras, nas ideias, nas atitudes, saudáveis no sentido mais amplo e positivo da palavra, precisamos estar em dias com os afetos, com as relações, com a bondade.

Desejo saúde para o meu amigo e saúde para você!

- Arcise Câmara

- Crédito de Imagem: http://amorecriatividade.blogspot.com

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