domingo, 29 de dezembro de 2013

Meu gatou sumiu


Foram 23 horas de agonia. Eu moro em apartamento e quando deixei minha amiga no elevador o gato escapou sem que eu visse.
Não senti falta na hora, não o vi sair, estava cansada, trabalhei no dia 24 meio período, fui fazer a comida da ceia, almocei tarde, lavei um montão de louça e fui dormir. Acordei em cima da hora e fui à missa de natal.
Quando cheguei senti falta, percebi que fazia horas que não o via e me desesperei. Desci e subi os dezoito andares do prédio até não sentir mais minhas pernas, desci e subi chamando o Kadu, desci e subi com um pote de ração fazendo chocalho, desci e subi miando, desci e subi em silêncio, desci e subi chorando, desci e subi soluçando, desci e subi, desci e subi.
Minuciosamente olhei nas garagens, nas rodas do carro, nos muros e telhados. O porteiro havia visto, mas nem sequer interfonou para nenhum apartamento para tentar achar o dono. Achei um despreparo. Mas não quis xingar, ele poderia ainda ver o Kadu e eu não o queria com raiva de mim.
Andei o quarteirão, rondei uma casa vizinha em que a dona cria muitos gatos, chorei muito, não dormi, não preguei o olho, meu natal foi péssimo. Um natal sem natal.
No domingo fui à missa das 11h, chorei muito, pedi a Deus. Minha mãe me abraçou e com uma grande convicção disse: não chora você vai encontrar seu gato hoje. Eu sei, eu sinto. Aquela convicção me convenceu. Tentei ser mais racional e menos emocional.
Verifiquei que o gato não sairia do prédio sem ser notado, era um gato bem criado, cheiroso, miadeiro e com cara de quem tem dono. Observei que o prédio parece uma fortaleza, cheio de grades e trancas e só havia uma maneira dele estar fora do prédio, saindo pelo portão da garagem junto com a entrada e saída dos carros, porém meu filhotinho é medroso ao barulho de carro e descartei essa hipótese.
Pensei comigo tentativa nº 1: bater de porta em porta, tentativa nº 2: pedir as filmagens das pouco acessíveis síndicas (possivelmente teria que pedir na justiça), tentativa nº 3: falar com todos no prédio, conhecidos, desconhecidos, visitantes, alguém tinha que ter visto. Tentativa nº 4:  cartazes e nº 5:  internet.
Comecei com a tentativa nº 1: batendo de porta em porta, mas preferi começar com as portas de donos de gatos, ninguém resistiria a um miado. E eu bati na primeira porta e eis que o Kadu estava lá. Já tinha virado Eduardo e só a mãe queria procurar o dono. As duas filhas haviam decidido ficar com o meu Kadu. Ele passou 14 horas lá. A mãe pediu para a filha avisar na portaria, mas a filha se recusou a avisar. A mãe já estava sendo convencida a ficar com o Kadu. Ela quando viu minha cara de sofrimento devolveu de boa. Falou das peripécias dele, do uso da caixinha de areia, do que ele havia comido e como tinha se adaptado bem.
As meninas ficaram chorando, querem visitá-lo sempre e eu consenti.
Final feliz para mim. Mas que susto medonho, que tristeza profunda. Nada me confortava. Eu me senti péssima e mais péssima ainda sem ter qualquer notícia se ele podia estar bem ou não.
Evitei coleirinha, ficava com dó e medo de que machucasse, mas agora acho algo necessário.
Meu safado fujão, já estava amando outra família.
A todas as pessoas que perderam seus gatinhos. Não se desesperem. Mas atenção. Melhor prevenir do que remediar.
- Arcise Câmara

 - Crédito de Imagem: https://www.facebook.com/OndeMeuGatoSenta

Nenhum comentário:

Postar um comentário