Quando eu quero
sair ele diz que está cansado (sempre cansado), faz cara feia e tenta me
impedir de ir com chantagens emocionais. Faz de tudo para que eu desista, diz
que isso é um absurdo, que eu deveria ficar, que é falta de respeito, falta de
respeito é me manter em cárcere privado. Não quer ir fica, eu não me chateio
por você ficar e nem você se chateia por eu ir. E quando o cansaço acabar
poderemos nos divertir juntos.
Todo
relacionamento tem concessões, não há o que duvidar, a diferença está entre o
que é concessão e o que é desaforo. Eu já fiquei muitas vezes, eu pensava assim:
“cedo hoje e ele cede amanhã”, passei meses em casa, tentei fazer a rotina
ficar alegre, comprava dvds, fazia pipoca, comprava chocolates ou preparava
fondue mas nem isso ele se animava, parecia um morto-vivo, um desânimo tomava
conta, cheguei a pensar que era patológico, algo como uma tristeza, uma
indisposição física, um início de depressão então foi aí que descobri que havia
entusiasmo para sair com os outros, fazer happy hour após o trabalho, a desmotivação e apatia era a minha
companhia.
O desgaste era
visível, bastava apenas eu revelar que não gostava de tal coisa para a tal
coisa ser repetida por ele. Comecei a ficar doente, parecia que eu tinha todas
as doenças, estava somatizando os
problemas emocionais para o corpo, iniciei um longo processo de
reclamação, reclamava de tudo: do sol, da chuva, do vento, do calor, do frio,
de pessoas, de animais, do universo, nada estava bom, minha vida estava uma
merda. Custei a perceber que estava perdendo-o, ele estava indo, existiam todos
os indícios de partida, mas eu relutava a acreditar.
O cabelo ficou
horroroso, a pele ressecada, as olheiras evidentes, estava fantasiada de bruxa,
as roupas desleixadas, só faltava a vassoura, eu estava cheia de defeitos,
nunca rezei com tanto fervor, nunca pedi tanto uma graça, não queria perdê-lo,
pensando bem, não seria grandes perdas considerando o tanto de descontentamento
que pairava sobre nós, estava envenenando a minha mente e necessitava de
mudanças internas consideráveis. Estava em crise entre as minhas verdades e a
minha loucura. Estava em duvida entre partir ou deixar partir.
Sentia inveja de
quem aparentava ser livre amando, de quem se sentia bem com o “amor”. As emoções que eu sentia era uma planta sem
raiz, que ia morrer logo. Os questionamentos me invadiam, eu valia pelo que sou
ou pelo que aparento ter? Eu não me encontrei totalmente, eu não entendia os
sentimentos. Eu não me sentia amada e nem amando, eu me sentia apenas tentando
lutar ou fugir, tudo estava embaralhado, confuso, eu não tinha garra para
ficar, nem garra para desistir, estava em cima do muro por medo de me
arrepender, foi esse sentimento que me levou a levar em banho-maria a relação
por mais algum tempo.
Tudo deveria ser
calculado, eu não poderia sofrer.
- Arcise Câmara
- Crédito de
Imagem: http://www.bbel.com.br
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