quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ilusão



Você conhece alguém que fica deitado inerte, apenas sonhando com um amor perfeito? Um príncipe, o homem dos sonhos? Nessa fantasia sobram qualidades e há ausências de defeitos, como se ser príncipe significasse ser perfeito.

Quando amamos ficamos um pouco anestesiadas com aquilo que no dia a dia nos desagrada, tudo parece fácil de resolver, tudo é mágico, tudo é lindo e nada tem tanta importância. Ele é bagunceiro, não incomoda, ele é mentiroso, não incomoda, ele é paquerador, não incomoda, tapamos os olhos como se o amor curasse o outro de seus defeitos.

Você se sente tão digna daquele amor que acredita em revoluções e até em milagres. Sim! Ele vai parar de beber, parar de bater, parar de se drogar, ele “um dia” será um namorado maravilhoso, um pai maravilhoso, um amigo excelente.

No início do relacionamento, as emoções se misturam, tem carência antiga tentando ser recuperada, tem a vontade de dar certo custe o que custar, afinal somos boas meninas, boas filhas, boas profissionais, boas pessoas.

O nosso ego nos confunde muito, somos o casal 20 aos olhos dos outros, somos amadas, queridas, não somos mais encalhadas, titias ou moça velha, queremos algo que nos complete sem estar completamente feliz conosco. Nossa sensibilidade nos faz escolher alguém tão diferente de nós, que nem reza braba faria as incompatibilidades se cruzarem.

Somos determinadas a fazer as coisas engrenarem, duelamos de vez em quando mas nada que não possa ser superado, quem muito quer um relacionamento não acha que namoro é fase de conhecimento para saber se vai ou não dar certo, a fase do namoro torna-se a obrigatoriedade do “tem que dar certo”, “eu mereço um relacionamento”.

A intimidade está cada dia mais sem graça, falta libido, falta vontade de fazer as coisas juntos, falta passear no exterior com o amado, falta interiorizar que somos únicas e incríveis, que não viemos ao mundo à toa, somos a luz de nós mesmas.

 Nada de pragmatismo nos nossos relacionamentos, ser feliz é ser flexível, é saber o que se quer, é saber como quer ser tratada, cuidada, é passar momentos alegres sempre que se encontram, é ter mais momentos felizes que momentos lamentosos.

Numa relação bacana, não posso me sentir diminuída, perdida, espremendo emoções, extraindo constantemente raiva do coração, numa vida de desanimo. Calma! Ainda não era a sua vez.

Eu era desmiolada quando o assunto era amor, era infeliz, tinha crises, já tive até vontade de morrer por causa de um amado, sei que estava fora do contexto de um verdadeiro amor, sei que amava me anulando, tentava provar o meu valor, quando na verdade quando duas pessoas se amam, nada precisa ser provado. Fugi de tudo isso.

Aprendi lições valiosas e singulares, era jovem e imatura não sabia nem o que procurava, queria tudo, queria um amor perfeito, um emprego perfeito e muito, mais muito dinheiro no bolso, nada de valioso me acontecia instantaneamente, eu tinha que conseguir, eu tinha que me permitir amar, mesmo que fosse as pessoas erradas, mesmo angustiada, nervosa, eu me estimulava a ter coragem de continuar.

Não fazia sentido nenhum esperar, procurar alguém mais quieto, ser prudente, não ferir meus próprios sentimentos. Eu tinha medo de pôr em prática o que aprendi a duras penas, no entanto, quando me senti livre, compreendi que precisava ser mulher com M maiúsculo.

Fingia que amava, fingia que podia conseguir o que eu quisesse, prosseguia a vida com as expectativas falsas, com as emoções inconstantes, morrendo por dentro, morrendo no olhar, com expressão triste, mumificada, desejava forçar o amor, acabou que o amor morreu porque não era amor, não há felicidade quando as intenções não são verdadeiras, quando o estímulo é carência, vontade de casar, de ter alguém, de não se sentir só.

- Arcise Câmara

- Crédito de Imagem: http://www.adilsoncosta.com


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