Elegem os mesmos ladrões, casam-se
pela segunda vez com um marido tão cruel quanto o primeiro, demoram a entender
que é preciso assimilar o passado e não esquecê-lo.
Enterramo-nos em caixões
desnecessários, pagamos com a língua, herdamos costumes da antiga civilização,
jogamos verde para colher maduro. Hum às vezes ficamos do avesso, protegidos
por plásticos bolhas, nossas atitudes nos levam ao precipício quando não
arrastamos morro abaixo os que estão perto de nós.
O destino é irônico, quando descuidamos
ele ataca, uma vez furtaram meu celular, eu sei exatamente quem furtou, um
descendente de japonês/coreano/vietnamita com um bebê de colo nos braços, se
aproximou, olhou nos meus olhos e ficou me observando, aquilo soou estranho,
mais parecia uma paquera, não! Era ele que a menor mudança de olhar tiraria a
mão de dentro da minha bolsa de onde tentava furtar o celular, até que depois
que conseguiu desapareceu. Apesar das semelhanças entre os orientais eu o
reconheceria a quilômetros de distância, se por um acaso passasse perto de mim.
Foi meu terceiro furto, espero não
precisar contar mais nenhum, sou uma sobrevivente da tecnologia, já esqueci
como era fazer cartas, ir aos correios, esperar por respostas, era bem mais
emocionante, menos robotizada, mas passou.
Meu Deus como as coisas mudam
depressa, como ando fria para furtos e assaltos, antes eu perdia a paz, perdia
o sono, ficou algo corriqueiro, coitado do moço, precisa dessa adrenalina para
viver, não parecia um necessitado, tinha mais cara de invejoso, queria ter o
que o outro tem sem suar por isso.
Já morei em vários apartamentos uns bonitos,
outros pequenos, outros casuais demais, outro dia fiz um esforço tremendo para
recordar os lugares que morei, os móveis que eu tinha, minha mente anda
devagar, lembrava com dificuldade das noites recebendo amigos simpáticos,
lembrava do jogo da verdade que nada mais era do que perguntar o que te
interessa saber.
Eu tinha esquecido que amei o Pedro,
que menti para a Sofia, que disse toda a verdade para a Bruna, tinha esquecido
que pago as contas todos os meses sem me dar o luxo de certas extravagâncias,
tinha esquecido como é sofrido ficar longe de você, tinha esquecido que pensava
em você o tempo todo, ligava para ouvir sua voz sem dizer nada, hoje os tempos
são outros, a bina não nos deixa fazer certas coisas
A gente esquece os álibis que provam
nossa inocência, esquece o calhorda que deixou a gente chorando por dias,
esquece o cavalheiro que não agradava porque era bom demais pra ser verdade, é
ou não é? A gente esquece que o diálogo vira monólogo, que os relacionamentos
mais francos são os mais verdadeiros, a gente esquece que a verdade amarga é
melhor que a mentira doce.
- Arcise Câmara
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