Depois da transa vem o desprezo, depois das opções de
lazer um vazio no peito. Queria eu
voltar atrás, parar de me incomodar com a minha consciência, abrir o leque da
generosidade.
Minha vida estava em queda livre e eu não tinha a quem
recorrer, parecia que eu era o homem mais sensacional do planeta, o fodão, o
garanhão, aquele que não diz não em nenhum momento, o famoso “Sexo Livre”.
Aguentava a família dela até conseguir atingir meus
orgasmos, dinheiro não era problema, fazia todas as suas vontades, tinha também
todo o tempo do mundo para minhas conquistas.
Eu sou o espelho refletido do meu pai, um pai que só
machucava a minha mãe com suas infidelidades e uma mãe sempre disposta a
perdoar, que vivia intensamente o valor da família mesmo sem ser correspondida.
A arriscada busca por felicidade instantânea era meu lema
de vida inconsciente, eu não notava o clima péssimo que se instalava em meu ser
e cada vez mais esse sentimento piorava e eu atribuía a culpa ao estresse, ao
ódio, a inveja, a arrogância ou a raiva. A culpa era de tudo e de todos menos
dos reflexos das minhas atitudes.
Decisões saudáveis às vezes aconteciam, eu conseguia
sintonia e energia com algumas mulheres, mas ainda não conseguia dizer não a
traição. O tempo passava e alguns hábitos saudáveis passavam também.
Eu abusava emocionalmente das mulheres, eu estimulava
meus sentidos mais primatas e eu ficava revoltadinho com a falta de
consideração quando alguma moça queria apenas sexo casual. Justo eu que
prometia o mundo em troca disso.
Saí de fininho algumas vezes, fui ferido no amor, mas por
rejeição admito. Nunca, em segundo algum, faltou assunto, eu sabia o que dizer
e como me comportar, eu achava que estava vivendo a vida como se fosse o último
dia de minha existência.
Ignorei as pessoas com quem convivi a vida toda, eu não
me encaixava mais com aquelas boas amizades, eu era um abusador emocional. Peguei DST (doença sexualmente
transmissível), o sofrimento me purificou um pouco.
Minha mãe ficou escandalizada com que os vizinhos iriam
pensar, e eu fiquei refletindo sobre os ecos da vida.
Arcise Câmara
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