Respeito quem pensa de modo diverso, mas eu jamais queria
gratidão no amor, alguém sem sentimentos atuais que se sentisse grato por tudo
que fiz e estivesse comigo por esse motivo.
Perceber as pessoas por trás das obras não é tão simples
quanto parece, sou intensa no amor, mas não quero cobrar dívidas, não estou
falando que reciprocidade não é coisa boa. Amo e faz bem, mas reciprocidade com
sentimento.
Namorei cinco anos cheios de idas e voltas, custei a
entender que era costume, medo do novo, pavor de não gostar da minha própria
companhia, pânico de conhecer a mim mesma.
Estou sempre me sentindo envergonhada, quando recebo coisas
sem ter feito nada, quando não é justo, quando parece que eu não tenho o
merecimento de tais agrados. Sou da geração que precisa suar para conquistar.
Eu não estava preparada para ser traída, nunca me passou
pela cabeça tamanha falta de respeito. Poxa! Eu só dei amor, fui sincera, leal,
parceira, talvez boba, talvez besta, talvez melosa demais.
Os sinais estavam claros, eu é que não vi. Ele se
expressava sem dar atenção aos meus desejos, sempre tomava suas próprias
decisões sem se importar comigo. Era intrometido e sufocante.
Uma das vantagens de ser traída é poder palpitar com
propriedade sobre o tema, algumas mulheres nunca se adaptam ao fato, outras
tiram de letra. Não estou minimizando a dor de ser sacaneada, estou apenas não
me importando com a atitude do outro. O que me importa são as lições que
aprendi.
Apesar da decepção ele continua sendo alguém que você
amou e teve momentos felizes, apesar da decepção me sinto incapacitada de
processar sentimentos internos misturados com raiva, rancor e ódio.
Se por um azar você mantém esse relacionamento, você
acaba se perguntando o tempo inteiro que vantagem você toma disso, você não
desliga quando ele viaja a trabalho, você cobra respeito e impõe leis. É um
trabalho árduo de nova composição do seu ser.
Arcise Câmara
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