quinta-feira, 18 de maio de 2017

Eu tinha menos de trinta anos

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Resolvi ganhar o mundo, resolvi mudar meu dia-a-dia, fazer intercâmbio na idade adulta, conhecer novas culturas, ter gatos, resolvi aproveitar ao máximo, parecia que eu não queria chegar aos trinta anos com tantas pendências.
Eu era muito inexperiente, isso me assustava, eu tinha medo de não viver tudo aquilo que me propus, todos os meus sonhos, minhas realizações e parecia que trinta anos era o fim da linha, parecia que eu tinha que correr contra o tempo.
Me faltava tudo, uma sensação de incompletude, uma sensação de vazio, planejava estar casada e não estava, planejava ter filhos e não tinha, planejava ter casa própria e sempre que alcançava o dinheiro a casa já valia o dobro.
O que mais me incomodava era a frustração, eu venci a timidez nos relacionamentos amorosos, eu ajudei os necessitados, eu tinha um ponto de vista mais centrado e mais feliz, contar minha história parcialmente feliz com lamentos é um problema para mim.
Eu estava nas estatísticas de pessoas insatisfeitas com a própria vida, certamente eu não estava no fim da fila, estava longe disso, mas em relação aos sentimentos infelizes que isso me causava eu estava bem decepcionada.
Encontrei forças para seguir em frente sem desanimar, me tornei uma pessoa mais agradecida, parei de viver com pressa, eu mal tinha tempo para cumprir minhas atividades rotineiras, eu não tinha tempo nem para o lazer, vivia em casa e na cama, meu nome era ócio.
A pressa tomou conta do meu mundo, eu estava ansiosa demais para esperar respostas que não vem, ou para mudar de vida, tudo me preocupa, menos a morte. A morte é um processo natural, mas que não estou preparada.
A vida é cheia de problemas, os choros são muitos, amores não correspondidos, falta de Deus como centro da vida, vida sem freios, terrível solidão, a vida vai além das cascas, é muita felicidade em outdoors para a gente se deprimir.
Quando a gente vai chegando aos trinta e vai fazendo autorreflexão, esse processo é lento e doloroso, a gente percebe que foi orgulhosa com bobagens, tem vontade de voltar atrás com alguns relacionamentos e nunca ter dado chance a outros.
Os problemas nem sempre são pontuais, a gente fica na dúvida sobre filhos, a gente vai tocando a vida da forma que dá. Estar perto dos trinta parece um caminho sem volta, eu acho até que preciso de terapia pois tudo me sufoca.
Eu precisava de privacidade, eu precisava também de motivação para viver, precisava explicar o que sentia para que as pessoas entendessem porque estava fechada para o amor, todos os sentimentos mudam e eu tenho muitas emoções conflitantes.
Eu me fingia de mulher macho, de autossuficiente, mas sempre fui sensível, despreparada e sempre fui oprimida por quem estava próximo até para me proteger, eu sei que essa autoanalise dura até os quarenta, as brigas por si autoconhecer.
O gran finale das emoções foi eu me sentir o tempo toda influenciada, como se as minhas escolhas não fossem minhas, como se fosse o fim do mundo desligar o celular por horas, como se eu não pudesse viver sem olhar para trás, como se essa fase não acabasse nunca. Não me sinto pronta para os trinta, mas já que ele vem com tudo, então bem-vindo!

Arcise Câmara

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