Resolvi ganhar o mundo, resolvi
mudar meu dia-a-dia, fazer intercâmbio na idade adulta, conhecer novas
culturas, ter gatos, resolvi aproveitar ao máximo, parecia que eu não queria
chegar aos trinta anos com tantas pendências.
Eu era muito inexperiente, isso
me assustava, eu tinha medo de não viver tudo aquilo que me propus, todos os
meus sonhos, minhas realizações e parecia que trinta anos era o fim da linha,
parecia que eu tinha que correr contra o tempo.
Me faltava tudo, uma sensação de
incompletude, uma sensação de vazio, planejava estar casada e não estava,
planejava ter filhos e não tinha, planejava ter casa própria e sempre que
alcançava o dinheiro a casa já valia o dobro.
O que mais me incomodava era a frustração,
eu venci a timidez nos relacionamentos amorosos, eu ajudei os necessitados, eu
tinha um ponto de vista mais centrado e mais feliz, contar minha história
parcialmente feliz com lamentos é um problema para mim.
Eu estava nas estatísticas de
pessoas insatisfeitas com a própria vida, certamente eu não estava no fim da
fila, estava longe disso, mas em relação aos sentimentos infelizes que isso me
causava eu estava bem decepcionada.
Encontrei forças para seguir em
frente sem desanimar, me tornei uma pessoa mais agradecida, parei de viver com
pressa, eu mal tinha tempo para cumprir minhas atividades rotineiras, eu não
tinha tempo nem para o lazer, vivia em casa e na cama, meu nome era ócio.
A pressa tomou conta do meu mundo,
eu estava ansiosa demais para esperar respostas que não vem, ou para mudar de
vida, tudo me preocupa, menos a morte. A morte é um processo natural, mas que
não estou preparada.
A vida é cheia de problemas, os choros
são muitos, amores não correspondidos, falta de Deus como centro da vida, vida
sem freios, terrível solidão, a vida vai além das cascas, é muita felicidade em
outdoors para a gente se deprimir.
Quando a gente vai chegando aos
trinta e vai fazendo autorreflexão, esse processo é lento e doloroso, a gente
percebe que foi orgulhosa com bobagens, tem vontade de voltar atrás com alguns
relacionamentos e nunca ter dado chance a outros.
Os problemas nem sempre são
pontuais, a gente fica na dúvida sobre filhos, a gente vai tocando a vida da
forma que dá. Estar perto dos trinta parece um caminho sem volta, eu acho até
que preciso de terapia pois tudo me sufoca.
Eu precisava de privacidade, eu
precisava também de motivação para viver, precisava explicar o que sentia para
que as pessoas entendessem porque estava fechada para o amor, todos os
sentimentos mudam e eu tenho muitas emoções conflitantes.
Eu me fingia de mulher macho, de
autossuficiente, mas sempre fui sensível, despreparada e sempre fui oprimida
por quem estava próximo até para me proteger, eu sei que essa autoanalise dura
até os quarenta, as brigas por si autoconhecer.
O gran finale das emoções foi eu
me sentir o tempo toda influenciada, como se as minhas escolhas não fossem
minhas, como se fosse o fim do mundo desligar o celular por horas, como se eu
não pudesse viver sem olhar para trás, como se essa fase não acabasse nunca.
Não me sinto pronta para os trinta, mas já que ele vem com tudo, então
bem-vindo!
Arcise Câmara
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