Nesse tempo de crise as pessoas andam
refletindo entre bens e necessidades, reaproveitando coisas da estação passada,
se esforçando para economizar, colocando sua autoestima para cima sem precisar
de tantos cosméticos, mas vira e mexe não estamos imunes aos erros, o erro do
desperdício, da doença inevitável do consumo, do resultado de nossas más
decisões.
Outra coisa sobre bens e necessidades que
confunde a gente é a liberdade, a reafirmação de amor, os aprendizados com os
acontecimentos, o divertimento sadio, inócuo, a fronteira entre a firmeza e o
desequilíbrio, a boa aparência e juventude e o foco no casamento.
A ciência do bom viver diz que parte de nós
possui inteligências arianas que rir da própria desgraça e a outra parte rir da
desgraça alheia, que parte de nós conseguimos enxergar o coração do outro,
outra parte não, que parte de nós acha que não vale o esforço e que tudo o que
podia ter vivido já passou, outra parte luta sem saber por dependência afetiva.
É difícil adquirir um pedômetro, um padrão de
beleza é sempre arbitrário, ou os abandonos são sempre injustos, ou a gente
pode parar de tentar, a gente pode parar de se importar, parar de ter
sentimentos, prender numa gaiola os déspotas.
A gente chega a poluir o ambiente por preguiça,
a gente se arranha por sermos diferentes, a gente acredita que homens só gostam
de mulheres bonitas, a gente fala só coisas bonitas para não deixar ninguém
chateado, a gente curte um cara safado que fala de tudo até levar você pra
cama, um estelionatário emocional.
A gente reclama de excesso de trabalho, da
vida desequilibrada, agente se acha velha aos quarenta anos de idade e jovem
demais para se despedir da vida aos 100, a gente morre por dentro, mas não dá o
braço a torcer, a gente fala que a verdade liberta, mas vivemos de ilusões.
Um dia a gente entende que são as pequenas
despesas que levam embora nosso orçamento, entende que somos todos macaquitos,
que tudo que vivemos tem desdobramentos psicológicos, que sentimos inveja e até
cobiçamos coisas alheias.
Ninguém precisa de títulos escolares para
discutir seus argumentos, ninguém precisa de Deus como amuleto do qual me
lembrava cada vez que enfrentava dificuldades ninguém precisa de posses para
ser mais ou menos feliz.
Geralmente paramos de descobrir coisas novas
sobre nós mesmos, a gente nem sabe que podemos ser vitoriosos sobre os nossos
hábitos, a gente cria briguinha e acusa o parceiro por tudo e no fim pergunta
se tá tudo bem.
A gente não dá importância ao mal-estar
doméstico, na falta de atitudes adultas e descoladas, na história que se
repete, na saúde perfeita até perdê-la, no relacionamento não estável. E quais
nossos bens e nossas necessidades mesmo?
Arcise Câmara
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