sábado, 5 de abril de 2014

Meu primeiro e único amor



Eu estava muito ocupado com a faculdade de engenharia, era tão difícil, cheguei a me perguntar diversas vezes se era isso mesmo que eu queria, eu tinha comigo uma insistente vontade de vencer. Sou de família humilde e muitas vezes tinha que decidir entre comida e o transporte para ir para a faculdade.
Eu tinha um temperamento calmo, seguro, introvertido, uma espécie de vidro blindado de “não mexa comigo”. Vivi assim por anos, focado nos estudo e eis que conheci a Cíntia, uma mulher encantadora que eu desejei viver com ela por muitos e muitos anos desde o dia em que a conheci.
O acaso fez com que nos conhecêssemos, até porque um homem tímido não tem estratégias de paqueras, até tem, mas não com êxitos no currículo, além do mais eu era de exatas.
Foi amor à primeira vista da parte dela também. Caramba como eu era sortudo, será que era isso mesmo ou o destino me pregaria a primeira grande desilusão, estava nervoso e sem nenhuma confiança de que nós pudéssemos dar certo. Vontade eu tinha, mas sem nenhuma autoestima.
Ela aprendia fácil a matemática que eu ensinava para ajudá-la na prova da faculdade de administração, ela não entendia muito o sentido das fórmulas e foi assim que nos aproximamos.
Sempre fui bem comportado, mas tinha uma necessidade de aparecer para ela, eu acho que me perfumava em excesso, vivia mexendo no cabelo, até gel passei a usar, um estilo bem na moda à época.
Ela tinha carro, eu mal a passagem do busão, ela era espirituosa, eu não conseguia nem rir de piadas, ela era esforçada para tirar boas notas e eu precisava tirar boas notas para garantir meu futuro, tudo na base da pressão interna.
Custei a acreditar nela quando ela foi soltando o quanto gostava da minha companhia, o quanto sentia saudade, o quanto eu era incrível. Sério! Nesse dia em que ela me falou que eu era incrível, eu nem dormi direito, fui até ler dicionário para tentar entender melhor o que era incrível na opinião dela.
Eu entrei na vida dela e ela na minha, formamos um casal de namorados dois anos depois, eu era lento e sem saber desviei vários beijos na boca para recebê-los na bochecha, sem saber e sem notar. Ai que bocó.
Já era um homem crescido e formado quando decidi pedi-la em casamento, nós éramos jovens, já trabalhávamos nas nossas respectivas áreas, já tínhamos dinheiro para comprar uma casinha e eu já tinha um carro e um cachorro, o Bread.
Jantamos num restaurante escolhido para a ocasião, comprei um anel com diamantes lindo e estava muito nervoso, mas foi uma noite inesquecível, a mais linda e decisiva da minha vida.
Juntamos nossa renda familiar e nos casamos, um casamento simples, para os íntimos e com o pôr do sol de fundo, era ótimo estarmos casados, apesar deu acreditar que tudo tem o seu tempo, poderia ter casado antes. Ela é de incrível convivência e nossa sintonia me impressiona.
Parecia bem lógico que iríamos ter filhos logo, mas isso não aconteceu, desejávamos dois, de preferência um casal, os nomes estavam escolhidos desde antes do casamento, mas os anos se passaram e os filhos não vieram, mesmo que não evitássemos.
Suas amigas estavam tendo bebês e isso a fazia ficar chateada, seu corpo estava começando a cobrar isso dela e ela começou a se trancar no quarto e a chorar sem motivo, o motivo existia, mas o “nada não” sempre vinha como resposta, ela não queria me pressionar nem me fazer sentir culpado, já que nossos exames nada apontavam.
A ideia de não ter filhos começou a assustar, quando começamos a namorar já fazíamos planos com isso, já pensávamos numa casa com localização perfeita, perto de creche e perto também dos nossos trabalhos.
Voltamos da nossa lua-de-mel achando que um bebê estava a caminho, mas nada se concretizou, a nossa casa tinha sido comprada para receber crianças, tinha dois quartos específicos para isso.
De natureza doce, calma e de sorriso lindo, minha amada esposa finalmente aceitou como destino o fato da não maternidade, acho que nunca vi algo tão resiliente em toda a minha vida.
A adoção começou a rondar nossas cabeças, não vamos tomar nenhuma decisão precipitada, mas vamos nos mexer pois processo de adoção demora um pouco, viramos caçadores de bebês, começamos a visitar abrigos até que nos apaixonamos por um serzinho indefeso e com cara de sapequinha.
Nossos olhos se iluminaram. Ah amorzinho, será que é este? Sim era aquele menino negrinho, de olhos arregalados, elétrico e sorriso fácil, ele parece gostar de nós e nós nos encantamos. O escolhido pelo destino, o nosso tesouro mais valioso.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: http://carolamontoro.blogspot.com


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