sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Efeitos colaterais


Estava enjoadinha, perdi o prazer de estar junto, sugeri alguma coisa que pudéssemos mudar esta situação tão deprimente, mas não havia uma ideia sequer. Coube a nós nos adequarmos, um fazia pouco do outro, inconscientemente éramos rivais, não nos completávamos e nem existia qualquer força para lutar pela relação.
Nossos temperamentos não eram similares, ele com uma paciência de monge budista e eu um fogo de artificio pronto para o show pirotécnico, ele detalhista e eu só enxergava o todo, ele abraçava qualquer oportunidade, já eu, desistente de vários projetos iniciados com euforia.
Começou o incêndio do salve a si mesmo, tínhamos paixões diferentes, e no meio desse turbilhão de diferença havia rios de lágrimas minhas, sim porque só eu chorava, só eu me lamentava, só eu estava infeliz apesar de pouco romântica e mais pragmática.
Notei o quanto ele estava afastado, o quanto ele tinha ligações secretas, andava com o celular para todo canto mesmo dentro de casa e ao menor questionamento respondia com brutalidade.
Apesar de tudo ainda havia aquela atração e por mais insegura que eu estivesse eu fortalecia esse fio de ligação que ainda nos unia. Abandonei a dança, uma das coisas que mais amo fazer, perdi o juízo e injetei sentimentos na minha rotina diária.
Esnobava seu mau-humor, zombava de suas ameaças em me deixar e comecei a me impor, se ele ia de qualquer maneira, pelo menos ameaçava que ia, parei de pisar em ovos, parei de agradá-lo, parei de tentar renovar a afetiva relação amorosa que um dia existiu.
Naturalmente as coisas começaram a mudar, eu arrisquei tudo já pensando em desistir e perder, eu descompliquei, deixei o caminho livre, as portas abertas, eu entreguei a chave e como num passe de mágica o temperamento dele mudou.
Eu mudei também, fui vingativa e cruel, queria saber se ele me amava de verdade, se eu poderia ser rigorosa, parei de justificar as coisas, parei de mendigar atenção, comecei a inventar histórias de amigas que estavam em crise conjugal e que eu aconselhei a separação.
Estávamos num terreno de certo e errado, atacando-nos de frente, com o “Não” como principal resposta e sem reflexões particulares, nem queríamos pormenorizar o que deveria ser dito, nossa teimosia nos afastou ainda mais. Acabou!
Aprendi que pequenas conquistas diárias não faz de você a grande vitoriosa, que inteligência emocional é um bom requisito para viver em paz, que choro muitas vezes não adianta e o que importa mesmo é a tranquilidade do coração. Aprendi que estar sozinha é mil vezes melhor do que mal acompanhada, que ter companheiro não significa ter companhia, que posso ser sorridente por mim mesma.
Caráter e personalidade não se muda, nossos desejos de que o outro seja diferente quase nunca se concretiza, reivindicações não são garantias de mudança, o ideal é ceder e observar se os lados positivos e negativos atingem o equilíbrio e nos faz feliz.
Estou intransigente com os erros, não sou modelo de referência, não mudaria minha vida diante dessa triste experiência, ando bastante resistente quanto ao amor, estou vestida de escudo, segura de mim, ando transformando amor em amizade, não busco relacionamento duradouro nem intermináveis.
Quero apenas um pretexto, um acontecimento recorrente, uma intenção traiçoeira, a falta de sensibilidade para deixar ir.
- Arcise Câmara

- Crédito de Imagem: blogadao.com

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