Eu não podia acreditar em tamanha
punhalada, o meu marido dormiu com a minha melhor amiga, chorei, sofri, gritei,
estava fora de mim. Quantas vezes convidei minha amiga para jantar conosco,
sair conosco, pegar um cineminha, ela era tão solitária, não tinha ninguém, uma
coitada!
Com o tempo o meu marido começou a
dizer: “convida fulana”, a amizade já consolidou, acho fulana tão agradável,
que tal chamarmos fulana? E assim ela ficou entre os nossos mundos a convite de
mim a princípio, depois a convite dele e com consentimento dos dois.
Eu ficava muito contente por ouvir
isso, meu esposo estava sendo amigo da minha amiga e isso era demais, além do
mais parecia que nossas saídas a sós perderam completamente a graça, só
tínhamos motivos para sair quando ela ia junto. Era mais animado, mais festivo,
mais up.
Seu riso sempre foi contagiante, sua
maneira de se expressar, expor seus pontos de vista era inabalável, seu
perfume, seu chame, a delicadeza com que andava e se comportava, uma verdadeira
lady, alguém que eu podia me espelhar.
Até então eu externei em alto e bom
som seus diversos atributos, eu ainda não sabia que ela incendiava meu marido
na cama, que tudo que eu falava já estava provado e aprovado a pelo menos oito
meses.
Uma bela tarde, após sentir-me mal no
trabalho, resolvi voltar para casa mais cedo, flagrei os dois no nosso quarto
no maior desrespeito, não preservaram nem meu santuário amoroso, estavam lá se
curtindo debaixo de um pôster de família pregado na cabeceira da cama.
O meu parecer diante daquela situação
foi de pedir o divórcio, eu não merecia aquilo, eu não merecia perdoar e me
deitar novamente com um homem tão cafajeste e canalha, tão desumano e
mesquinho.
Ele aceitou o divórcio como um
prêmio, ela era livre, solteira, estava pronta para tê-lo e eu fazia um grande
favor em sair de cena. É tão difícil entender como um homem que amamos a
segundos é tão diferente do que imaginamos.
Eu tremi de raiva, nunca chorei
tanto, eu nunca havia chorado de ódio, tinha ódio duplo, perdi amiga e marido
numa tacada só, ambos me traíram eu tinha agora um ex-marido e uma ex-amiga
para sempre.
A minha raiva era tanta que eu fiquei
com a ideia fixa de que aquilo não ia durar muito, que não era justo uma
cachorrada dessa dar certo, de que ambos tinham que sentir a minha falta, se
arrepender, sofrer. Mas não fiz nada além do desejo que não desse certo.
Repetia o mantra: Quem não me ama não me merece.
Foi desconfortante, vergonhoso,
ultrajante. Senti-me a pior das espécie, mas segui em frente. Não foi fácil
encarar todo mundo, não foi fácil ser acusada de ter facilitado as coisas
inclusive por ambos, não foi fácil mudar de postura e me reerguer.
Os dois se mereciam, um era tão
cafajeste quanto o outro, então que fizessem um bom proveito. O percurso da
felicidade foi longo demais, eu tinha entregado meu coração a esses dois amores
distintos: amor romântico e amor fraterno e havia me decepcionado com ambos.
Meu coração apaziguou, eu confesso
que fiquei com mais raiva dele do que dela, ele me devia respeito, ele prometeu
amor e fidelidade, ele não merecia o meu amor nem a minha fidelidade.
Como eu ia dizer o que aconteceu ao
nosso casal de filhos? Era justo colocar os dois na fogueira? Era justo falar
das barbáries que cometeram contra mim? Eu precisava envolver os filhos nessa briga?
É claro que eles iam tomar as minhas dores e voltar-se contra o pai, não sei se
o pai merecia esse respeito todo de mim e dos filhos. A dúvida ficou latente e
eu resolvi contar sem detalhes o que de fato aconteceu.
Comecei a me sentir melhor a medida
que os dias iam passando. Comprei vestidos elegantes, encontrei-me com amigas,
fui a shows, shoppings, festas, socializei-me e eis que encontrei alguém
interessante.
Nós nos encontramos uma vez, depois
outra e depois outra, estava cada dia mais feliz e como felicidade incomoda, eu
incomodei o ex que veio me cobrar satisfações, ameaçar tirar as pensões dos
meninos, denunciar-me por negligência e mais um monte de bobagens sem
fundamento que nem merecem justificativas da minha parte.
O ciúme do ex foi ficando doentio,
entrei com uma medida cautelar contra ele. E tudo voltou ao normal exceto pelas
lágrimas e pitis dele me pedindo para voltar. Com isso o casamento dele com
minha ex-amiga foi escorrendo pelo ralo do banheiro.
É tudo sem sentido, o cara te troca por
outra e quando você tem outro ele quer destrocar a outra por você novamente,
uma doideira que nem Sigmund conseguiria explicar.
Eu não acreditei no que ele foi capaz
de fazer, mas eu me reergui a despois de reerguida ninguém quer voltar para a
lama.
- Arcise Câmara
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