quarta-feira, 3 de abril de 2013

Custei a digerir


O cara tinha tudo para ser seguro de si mesmo, era lindo, um Deus Grego, bem-sucedido, charmoso, romântico, educado, um homem gentil, mas era ciumento e indeciso, não sabia seu real valor, não depositava nenhuma confiança em si mesmo, não se via o suprassumo que todas as mulheres do planeta viam, não se deixava conquistar-se. Era uma raridade, uma pessoa do bem, disposta a amar sem medidas, disposta a fazer o outro feliz, colocando a felicidade da parceira acima da própria, parecia um amor não consentido, parecia que ele precisava provar para ele mesmo o tempo todo que ele não era suficientemente bom, amável, legal, alto-astral, parecia que ele não tinha atrativos pessoais, que insegurança era aquela.
Depois descobri que ele havia recebido alguns golpes do destino, tinham ferido sua alta autoestima, tinham pisado no seu ego, tinham humilhado seu coração, tinham pisoteado nos seus sentimentos e ele sozinho não conseguiu recuperar-se.
Ele pensava sim em amor, em uma família, uma lar e um SENTIMENTO com letras graúdas, em casar,  ter a responsabilidade da contas e a divisão das alegrias e tristezas com a amada, precisava de gozo e oferecer orgasmo a sua companheira, conhecê-la bem, conhecer seu corpo, pedir explicações, conversar a respeito, saber como usar os métodos para uma boa relação sexual, dar e receber prazer, sem pressa e sem marasmos, sem cobrança e sem frescuras, ter filhos, pelo menos um para garantir a perpetuação da espécie, para ensinar-lhe os valores recebidos desde os tempos dos ascendentes e firmar o próprio compromisso em ser feliz a cada instante, como a vida ousara não lhe beneficiar.
Tínhamos energia sexual, ligação interna e externa, algo que não dar para explicar em palavras, uma ligação de almas, de corpos, de mundo, uma fantasia a realizar, uma troca fortalecida de carinho, respeito, tesão e amor. Custei a digerir que aquilo fosse tão real, que estivesse acontecendo comigo, que me invadisse a alma daquele jeito, que me sufocasse de prazer, um prazer que doía e que enlouquecia.
Éramos assim e  ponto final, não tinha o que mexer, o que dizer, o que evoluir, não era nada demais mas era tudo perfeito, como a perfeição que não existe e que dá medo.
Mas não estávamos ali pelo mesmo motivo, não era assim tão fácil, tão certo, tão espetacular, precisávamos vencer nossas próprias barreiras, precisávamos digerir nossos preconceitos, precisávamos estar em paz conosco, precisávamos complicar a simplicidade da felicidade e precisávamos nos afastar para um dia entendermos que aquilo tudo foi maravilhoso, poderia ser durável, mas não foi porque não era para ser.

- Arcise Câmara

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