![]() |
Meu pai nasceu em família humilde, trabalhou muito cedo, com 8 anos
morava em casa de família (aquelas famílias que denominam empregados não
remunerados de "filhos de criação"), Cadê o meu pai? Está lavando o
pátio. Cadê meu pai? Está lavando a louça. Cadê meu pai? Está lavando o
banheiro. Cadê os outros filhos? Estão brincando... Mas era filho de
"criação" (trocava a criação + trabalho como um mouro escravo por
comida mais moradia).
O mais velho de 17 irmãos, quatorze vivos e 3 falecidos como dizia minha
vó (meu pai diz com os olhos cheios de lágrimas a cada partida: "meus
irmãos furam fila para falecer". Eu só me lembro de 10 filhos porque
outros morreram crianças e até bebês, vítimas de desnutrição e 1 de afogamento.
A oportunidade de estudar mais que o curso
primário ensino fundamental
deu condições futuras para a contribuição, e assim, completar a renda familiar
e ajudar seus irmão menores a estudar sem grandes sacrifícios. Meu pai começou
do nada, única herança genética era o esforço e a força de trabalho. Uma certa
dose de ambição, a ambição saudável e benéfica, a ambição dentro da legalidade,
a ambição não pejorativa pregada por muitos levou o meu pai a subir cada
degrau, jamais esquecendo sua escala de valores. Meu pai pessoa que admiro e
amo. É perfeito? Não! Mas é o meu melhor pai do mundo? Pra mim, sim!
Lembro quando fui morar sozinha que sentia todas as noites aquele beijo
noturno dado pelo meu pai em minha bochecha, eu chegava a me arrepiar, foram
tantos anos recebendo aquele beijo, ajeitando o nosso lençol, rezando na nossa
cabeça que é inesquecível, e não dava para deixar sentir aquele carinho
mal-acostumado por quase duas décadas.
O papai educou os filhos na surra, no castigo, na palmada e na conversa,
hoje talvez estivesse preso por alguma Lei Antipalmada ou de Direitos Humanos,
nos explicava com exemplos, com a vida e com as notícias dos jornais, lembro-me
de um longo ensinamento sobre a banda podre da polícia e o quanto a sociedade
padecia com tais comportamentos. Lembro também dele tentando me explicar a
diferença entre idealismo, radicalismo e fanatismo. Era o melhor professor/pai
de todos os tempos.
Por muitas vezes eu me perguntei o porquê eu não tenho a garra do meu
pai, adoeço por tudo, basta 3 horas debaixo do sol, mesmo com ventilador
portátil, bloqueador e guarda-sol para ter febre e moleza no dia seguinte.
Quase sempre me encontro em exaustão, proporcionalmente recebo de brinde um
sono profundo em estado delicioso, talvez o Nirvanah que os budistas falam.
Segundo a minha mãe herdei seu gênio forte. E que gênio! Por favor, não paguem
pra ver!
Meu pai leu em algum lugar que banana prolonga a vida e na casa dele
pode faltar tudo, mas banana não falta, é vitamina de banana pela manhã, banana
misturada na comida no almoço, banana de lanche e banana com banana, ainda bem
que é minha fruta favorita, é automático pensar no meu pai comendo banana quer
frita quer in natura.
Apesar de escritório físico meu pai trabalhava em casa. Meu pai oposto
da minha mãe, por ela não nos aventurávamos no jambeiro do meu avô, não
nadávamos, não andávamos de bicicleta e tampouco de skate, o papai conseguia
quebrar a superproteção da minha mãe e brincávamos com terra, de manja, lembro-me
de todas as manhãs brincar com toda a família de 5 as 6h, agente acordava cedo
e ia para a antiga bola da Suframa correr e respirar ar puro, evitava asma
segundo o papai. Lá íamos na nossa Brasília Azul, cantando "não corra
papai não corra, estou esperando você não corra papai, não corra, não quero
nunca lhe perder".
O Papai sempre nos criou em uma relação de iguais, eu o chamava de tu e
minha irmã sempre o chamou de Senhor Irineu, aprendeu com a empregada que o
chamava assim.
Lembro de uma vez que o papai levou um balde de sorvete para o Dom
Bosco, isso porque o dia das mães tinha todo um glamour e o dia dos pais era
superfanta.
Eu tenho as melhores recordações do meu pai na infância e hoje adulta me
sinto amada cada segundo.
Pai, eu te amo!

Nenhum comentário:
Postar um comentário