A vida nos impõe certas coisas desde o século
passado, desde que o mundo é mundo, desde o tempo em que a disciplina lá de
casa era a peia.
A sociedade nos diz que é triste viver
sozinho, que não é legal viver num quartinho simples e cheio de livros, que o mundo é mais amplo e
que as alternativas, as melhores alternativas é tudo que envolve grana,
riqueza, família feliz e amamentação, nessa última parte eu concordo.
A gente vai vivendo a vida depressa demais, a
gente se pergunta se tem tempo para se acalmar, curar as feridas abertas,
surpreender a si mesma. Às vezes tudo parece nublado, tudo é muito eterno para
um mundo de passagem, a gente não precisa viver como outras pessoas, a gente
pode e deve aceitar nossas falhas e limitações, a gente pode melhorar e até
gostar da nossa trajetória.
Nossa história é única nessa terra, a gente
não pode ter uma vida como se fosse viver eternamente, temos que encaixar
felicidade mesmo que não esteja mar de rosa, temos que ter plenitude sem
dinheiro, segurança sem um amor, aprender as lições que a vida nos oferece sem
a dor da existência.
Quando há dúvidas... precisamos seguir,
quando há conflitos... precisamos seguir, quando de repente a gente recebe um
e-mail dizendo: 'olha, não dá mais'... precisamos seguir, quando não tenho
dinheiro para a matrícula na academia de ginástica... precisamos seguir.
A gente vai achando relacionamentos ruins
como essenciais, a gente quer reconquistar de qualquer jeito porque no fundo
achamos que a culpa foi nossa, a gente larga emprego, muda de ramo, desiste
fácil de tudo que sonhou a vida inteira para que ele volte.
Quando percebi o beco sem saída, dei meia
volta, ele não tem saída para frente, mas tem saída para trás. Adaptei-me
exclusivamente a minha própria companhia, resolvi viajar por vinte dias,
conheci lugares e pessoas geniais, controlei minha ansiedade de estar longe de
casa e dos bichos.
Eu me sentia mais culta e mais vivida, eu
estava falando mais alto que de costume, ele nem se importou, nem deu sinal de
vida, nem se incomodou com as minhas fotos realmente felizes no instagram.
Sempre que alguma coisa ruim me acontece:
corto o cabelo, é tão fácil mudar estilo, dar uma repaginada no visual, se
achar linda e pronta para outra, essa parte de pronta para outra eu apertei no
pause, vamos esperar um pouquinho, não sou tão forte quanto as minhas palavras
acham que sou.
O tempo
passou, um belo dia eu acordei me sentindo bonita, entendida
que nascemos e morremos sós, depois de tantos natais, depois de conhecer novas
maneiras de ser feliz, aprendi a me amar, passei a compreender meu mundo,
minhas falhas, a importância das dores, aprendi a chorar e respeitar meu
espaço, minha vida, meu eu.
Talvez eu diga o que já disse antes, talvez
tenha vencido a ilusão, talvez o amor me aperfeiçoe, talvez o raio de sol que
tanto eu aprecie entre pela fresta da janela, ilumine o que tiver que iluminar
e basta isso para que eu possa diminuir a distância do discernimento que
ninguém é feliz o tempo todo, que cada dia é um recomeço.
Arcise Câmara
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