Quantas vezes o ofendi gratuitamente? Quantas
vezes procurei outras pessoas para conviver? Quantas vezes senti vontade de
vingar o que ele disse e não me entrou muito bem?
Tudo isso acabou em divórcio, tomei minhas
próprias decisões, agora as cicatrizes ainda não cicatrizadas continuam na
alma, tento ser guerreira, mas quando olho para trás desabo, se eu tivesse
maturidade de observar tudo seria diferente, já li que a culpa faz parte e que
ele não era tão maravilhoso assim.
Eu não me contento com a vida, não temo mais
a própria vida, passa coisas horrorosas pela minha cabeça, inclusive
interromper a vida que não é tão bela ou colorida como antes.
Eu encasquetei que ele me traia, estava muito
carinhoso ultimamente, levantou suspeitas imediatamente, era um terreno
perigoso descobrir traição quando na verdade você não sabe o que vai fazer com
aquela informação.
Vivia num estado de pique o tempo todo até
desabar, decidi pela mudança, mas a adaptação não é fácil, perdê-lo transformou-o
num príncipe, mesmo que lá no fundo eu saiba que não é bem assim.
Eu precisava de desafio, precisava ingerir
açúcar, aumentar o ritmo, fortalecer os ossos com cálcio. Eu precisava de
razão, de coração, de vontade, precisava deixar claro uma coisa eu não era
mulher de aceitar tudo passivamente.
Nunca mais ele teve brilho nos olhos, nunca
mais o seu pobre coração acelerou, ele sofreu demais, mas foi responsável pelas
suas escolhas, ele estava bruto, chato, relaxado e justamente à época em que eu
estava organizada em tudo, coisa que nunca fui.
A vida deu uma virada absurda, ele não fazia
objeção à coisa alguma que eu pedia, mas não era sincero, não era por vontade,
ele apenas não queria levar um pé, não queria discutir com minha ansiedade,
meus medos e a perda do marido perfeito.
Tive a oportunidade de aprender a ter mais
autoestima e amor próprio, a pensar mais em mim mesma, a conhecer as
contradições internas, a não ter ódio e complexos.
Comecei a ter aquele jeitão de dona do mundo,
de viver a minha maneira, de evitar o longo processo de amadurecimento. Havia mil
formas de relacionamento, poderíamos morar em casas separadas ou agir como se atitudes
alheias não me afetassem.
Não preciso lidar com nenhuma desculpa, o meu
maior bem-estar, minha maior sabedoria, a minha própria admiração e doação me
diziam para ir embora, para sair do caminho, para encontrar alguém que me ame
sem fugas, eu me permitia olhar para o futuro sem medo. E assim foi.
Arcise Câmara
Imagem We Heart It
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