quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Buscando, silenciosa, uma ajuda para sobreviver ao inferno e seus demônios


Não se vive nada duas vezes, portanto eu não consigo acreditar que no mundo de hoje algumas mulheres se submetam a agressividade de seus maridos, maridos que não sabem ouvir sem dar uma porrada na porta, maridos que odeiam risadas e felicidade.
Encontrar uma saída para uma situação problemática enquanto se está com a autoestima zerada é difícil de acontecer, ficamos concentradas nele ao invés de focarmos em nós mesmas.
Casar e se vir odiando um estranhos e confundindo tudo isso com amor, respeito, fidelidade ou até que a morte nos separe, ou dormir chorando pensando que você se meteu onde não devia.
Como ele pode ser tão frustrante com a mulher que ele diz amar, como ele fala tanto de si mesmo, como ele tem ideia distorcida de justiça, ele me faz espumar de raiva e acabo sendo agredida e depois vem as promessas que foi a última vez que ele me bateu.
Um canalha que eu tinha medo de deixar, ele sempre dava a entender para os amigos que a culpa era minha, fui colocada na fornalha várias vezes, meu corpo não sente mais nenhuma expectativa num sexo forçado e sem química, sou louca por bebês, mas prefiro não ter filhos, vai que ele chuta a minha barriga.
Não escondo minha indignação, ele sabe que estou com ele por medo, por autoestima despedaçada, por não ter peito para fugir ou denunciar, por me sentir feia e tímida para enfrentar o mundo com a cabeça erguida.
Ele deu pedradas certeiras na minha autoestima, talvez sem conserto, o pior de tudo isso é que eu tenho consciência, sei que essa relação não me traz nada de bom, sei que posso sair desse inferno como quem termina um namoro, mas não tenho inspiração para andar com as próprias pernas.
Para conversar com ele eu ficava sempre escolhendo as palavras para não irritá-lo, sou boa nisso, vivia com manias ridículas, era uma forma de me sentir ativa, era como aquela criança que inventa amiguinhos imaginários.
É tão difícil agradar quem não tem nada, eu gosto da minha individualidade, eu gosto de dominar uma conversa, eu gosto de cheiro de blusa nova, eu não gosto de me preocupar se vou apanhar por isso, quero viver sem pensar nas consequências.
Sinto ansiedade só em pensar que ele pode se apaixonar por outro alguém e ir embora, sinto-me nervosa e desconfortável na sua presença, sei que não sinto mais amor e o carinho, ele despedaça meu coração todo santo dia.
Não sinto falta quando ele sai, perdi as contas de quantas vezes desejei sua morte, um atropelamento, não falo dele como se ainda fossem casados, gosto do silêncio desconfortável a ter que falar com ele.
Sinto arrepio quando ele me repreende, não me sinto numa zona segura, falo em tom mais contido, corto minha expansividade, minha curiosidade, minha vida que poderia ser interessante.
Vivo uma vida que não importa nem para mim mesma, faz tempo que não sinto pequenas empolgações pulsando em mim, luto contra o impulso de manda-lo a merda, ou de deixá-lo a vontade, faz séculos que não o vejo como homem e sim como um criminoso.
Nunca um homem mexeu tanto comigo, nunca um homem foi bastante para mim, o meu instinto diz que algo não está certo, então não está certo mesmo, mas no fundo eu sempre achei que conseguiria vencer essa batalha, por muito tempo que era fácil mudar o outro com amor e paciência. Só lamento, destruí meu coração.
Arcise Câmara

Imagem We It

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