Era a paranoia da estética, eu era magricela, pele e
osso, ele ia me quebrar ao meio, muitas razões me fizeram concluir que não dava
mais, no entanto, existe vida inteligente por trás de um casamento, eu não ia
me separar por causa dos outros.
Quando estávamos na praia, ao invés de observarem a
natureza viva, ficavam falando o quanto eu estava feia de biquíni, como era
possível ele se apegar a mim daquele jeito.
E a pergunta que não quer calar, que diacho a família de
origem dele vai à praia com vocês? Essa pergunta era uma das minhas prioridades
e a resposta é a seguinte: ele divulgava para a família dele até os nossos
pensamentos e quando a turma se convidava ele não sabia dizer não e nem via
maldades em suas ações.
Com o tempo minha autoestima estava associada à opinião
dele a meu respeito, de tanto a família falar, ele também achava que eu merecia
uns quilos a mais. Eu tentava disfarçar meus erros, minha dor, meu riso.
Eu combinava internamente que só ia falar do tempo, da
novela, do galã, do vídeo show, e algumas indiretinhas como: Não se cresce a
sombra do outro. Sem querer ser repetitiva cada um é único e deve cuidar da sua
própria vida, eu falava.
Eu procurava me manter serena, concentrada, pensativa,
mas eles me tiravam dos trilhos, era como se eu tivesse diabetes ou câncer, era
um come isso, come aquilo, come mais, precisa engordar, assim o vento te leva.
Os palpites eram a ostentação e o luxo imaginável de se meter na minha vida,
que a essa altura do campeonato não estava mais feliz.
Convidei as dificuldades para entrar e me permiti um
momento a sós comigo mesma. Nunca fui de fazer birra, éramos ratos de praia e a
sombra dele (família sempre ia junto).
Porque era tão difícil simplesmente dizer não, eu me
questionava, não queria afastar meu esposo de ninguém, muito menos da família,
curto a família e acredito que esse vínculo nos pertence eternamente, mas a
segunda família precisa de espaço para crescer e desenvolver. A minha tática é,
olhar para eles como quem olha para um filme na tv, transformar todas as
ofensas e disse-me-disse em sessão da tarde e o mais importante, manter minha
paz.
Arcise Câmara
Imagem: juberdonizele
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