Sou especialista em decisões rápidas, essa impulsividade
ainda me mata. Na minha família eu era vista com um ser inferior, alguém que
não prestava para nada, parte disso era como eu me enxergava e outra parte era
o reflexo desse pensamento nas atitudes.
Hoje estou péssima, estressada, sem concentração,
buscando respostas, motivos ou a morte. Os músculos doem, a cabeça explode, eu
nunca nem pensara em trabalhar, usava palavrões como se fossem vírgulas.
Recém -nascidos são pegajosos, ensanguentados, delicados,
frágeis e enrugados, pra mim? Não
precisava! Não me sentia apta a transar por aí sem consequências, minha vida
era tão merda para eu cortar o único alívio que eu tinha chamado li-ber-da-de.
As pessoas me observavam como se eu usasse drogas,
ficavam buscando sinais nos olhos, na posição, no meu jeito de falar, na forma
irresponsável como eu vivia. Nunca seria
esquecida, qualquer um falava de mim,
até a pessoa que acabou de me conhecer, qualquer um tinha um conselho, ou dois,
ou mil.
Parte de tudo isso
era o ódio que eu sentia de mim mesma, caso contrário já teria tentado suicídio,
aí sim cairia no esquecimento. Eu aguentava firme, tinha a certeza que eu
deveria fazer o bem a mim e mudar essa interpretação maldita que até eu fazia
ao meu respeito.
Continuei com
minha conversas moles e piadinhas sem graça, porque eu sabia sobreviver num
mundo de maldades, sempre tive a seguinte filosofia:
as pessoas vão até onde a gente deixa e eu deixava e me vitimava por isso.
Algumas pessoas deixaram marcas negativas em mim,
deixaram lembranças ruins que eu não consigo apagar, mas decidi pelo menos
dessa vez ter consideração por mim mesma.
A família que eu tinha era a família que todo mundo
gostaria de ter tido, recebiam na porta, eram receptíveis, amáveis, felizes,
unidos e altruístas, trabalhadores e tementes a Deus e eu só consegui enxergar
que minha vida era boa pra cacete quando as companhias dos verdadeiros amigos
se aproximaram. Foi aí que eu percebi a diferença entre o que eu era e o que eu
estava fazendo da minha existência.
Arcise Câmara
Nenhum comentário:
Postar um comentário