quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O cheiro era companhia de amigos

Resultado de imagem para O cheiro era companhia de amigos

Sou especialista em decisões rápidas, essa impulsividade ainda me mata. Na minha família eu era vista com um ser inferior, alguém que não prestava para nada, parte disso era como eu me enxergava e outra parte era o reflexo desse pensamento nas atitudes.
Hoje estou péssima, estressada, sem concentração, buscando respostas, motivos ou a morte. Os músculos doem, a cabeça explode, eu nunca nem pensara em trabalhar, usava palavrões como se fossem vírgulas.
Recém -nascidos são pegajosos, ensanguentados, delicados, frágeis  e enrugados, pra mim? Não precisava! Não me sentia apta a transar por aí sem consequências, minha vida era tão merda para eu cortar o único alívio que eu tinha chamado li-ber-da-de.
As pessoas me observavam como se eu usasse drogas, ficavam buscando sinais nos olhos, na posição, no meu jeito de falar, na forma irresponsável como eu vivia. Nunca seria esquecida,  qualquer um falava de mim, até a pessoa que acabou de me conhecer, qualquer um tinha um conselho, ou dois, ou mil.
Parte de tudo isso era o ódio que eu sentia de mim mesma, caso contrário já teria tentado suicídio, aí sim cairia no esquecimento. Eu aguentava firme, tinha a certeza que eu deveria fazer o bem a mim e mudar essa interpretação maldita que até eu fazia ao meu respeito.
Continuei com minha conversas moles e piadinhas sem graça, porque eu sabia sobreviver num mundo de maldades, sempre tive a seguinte filosofia: as pessoas vão até onde a gente deixa e eu deixava e me vitimava por isso.
Algumas pessoas deixaram marcas negativas em mim, deixaram lembranças ruins que eu não consigo apagar, mas decidi pelo menos dessa vez ter consideração por mim mesma.
A família que eu tinha era a família que todo mundo gostaria de ter tido, recebiam na porta, eram receptíveis, amáveis, felizes, unidos e altruístas, trabalhadores e tementes a Deus e eu só consegui enxergar que minha vida era boa pra cacete quando as companhias dos verdadeiros amigos se aproximaram. Foi aí que eu percebi a diferença entre o que eu era e o que eu estava fazendo da minha existência.
Arcise Câmara


Nenhum comentário:

Postar um comentário