Não dava valor ao que tinha, vivia comendo doces, era
difícil ver o doce como algo tão danoso, às vezes o melhor modo de amar e
ajudar uma pessoa é deixá-la em paz ou dar-lhe a chance de tentar ser do jeito
que ela é.
E o que o doce e o amor têm em comum?
Às vezes se acredita que uma pessoa está realmente
tentando ajudar outra, mas na verdade ela está apenas alimentando a vontade de
comer doce sem se sentir culpada.
A dificuldade é que bondade, justiça e questões morais
não são políticas, pagar mais barato pelas coisas era algo que envolvia riscos,
pensar só em si destruía a Moralidade. Era preciso impor e promulgar uma lei
“amem uns aos outros”.
Sou do tipo que falo de maneira automática e casual, a
legislação não é simplesmente uma concordância a respeito do que é certo e errado,
tem umas infinitude de mãos abanando, tentando inutilmente ter suas
necessidades mais básicas atendidas.
As leis que proíbem assassinatos, fraudes, danos é mesmo um
avanço, fico trêmula só em pensar que é preciso proibir coisas tão óbvias. Que
tipo de glória é obtida quando ela é atingida à custa dos outros? Cheguei ao
limite do nojo, como posso viver na dúvida ou sem compaixão?
Não desejo coisa alguma, tenho preferências, mas não
necessidades. De vez em quando meu humor dita o clima, às vezes acho que o
mundo não evoluiu e ainda opera com uma mentalidade primata, outras vezes
desfaço-me de desculpas acerca das diferenças, dos sinais sadios de
individualidade.
A gratidão suplantada pelo medo, mesmo quando eu lhe
apresento uma opção, uma ideia, uma opinião, você não tem toda a vida para
concordar ou discordar, tudo é um processo de recriação, hoje pode, amanhã não.
Eu me sinto inconveniente e culpada, uma nova pessoa por
dentro e por fora, detesto a ideia de enterrar alguém, eu me reconciliei não só
com quem eu era, mas com quem sou e com quem quero ser, desanimo com facilidade
e preciso acreditar na própria capacidade de hora se de um jeito e poder mudar
a qualquer momento.
Arcise Câmara
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