Jamais será possível experimentar realmente aquilo que o
outro sente, mas dá para experimentar aquilo que sentimos com as demonstrações
de afeto do outro.
Desde quando ainda estava casada recebi o convite de ser
Madrinha de Crisma, as exigências do “cargo” me faz refletir bastante como ser
humano, como alguém que pode preencher áreas não preenchidas, como aconselhar
no amor, no serviço à igreja, falar sobre o esqueleto da vida...
Quanto mais o tempo passava, mas a certeza de que eu
seria a madrinha, o convite continuava de pé, mesmo a proximidade não sendo tão
intensa. Confesso que tenho apego e sentimentos por muitas pessoas ligadas ao
ex. Confesso que elas não se separaram de mim e nem eu delas.
A princípio achei o convite imaturo, sem necessidade,
depois achei o convite inocente e puro, aquele vindo do fundo do coração. Eu
aceito bem a minha realidade de divorciada, aceito bem a condição de que meu
ex-maridex não quer me ver nem pintada de ouro. Não entendo a sua revolta, não
fomos o casal mais civilizado do planeta, mas também não terminamos nos
odiando. O ódio da parte dele veio depois, veio com o arrependimento que ele
disse ter.
É por esse motivo que, quando a dimensão afetiva vem a
faltar, a gente não sabe como agir. Por outro lado a minha proximidade com a
ex-cunhada não me aproxima do ex. Ele não frequenta nenhum ambiente que eu
esteja, não existe a experiência do contato. Por mim não teria problema porque
no fundo o quero bem. Desejo felicidades, desejo até que ele seja tão feliz
quanto eu.
O amor se espalhou como mágica, a relação é de tia e
sobrinha, e eu me mantinha entre o amor e a mesquinhez porque de alguma forma
me afetava o fato de que a minha presença o ausentasse.
Eu não apareço muito na galeria familiar, não sou tão
próxima como gostaria, eu não sei se ao certo consigo lidar totalmente, mas
percebi que falar que eu não podia ser Madrinha causaria uma grande mágoa e
quase um crime. Foi sob esse prisma que eu aceitei.
Aprendi que precisamos
valorizar, todos os dias, quem amamos e principalmente quem nos ama e tem
admiração e respeito por nós.
Arcise Câmara
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