A vida só começa de fato quando você gosta de si
mesmo e eu estava impaciente até comigo mesma, estava em crise de afetos,
economizando amizade e com muito excesso de rotina.
Eu mesmo assalariada havia me prometido uma viagem
dos sonhos, pensava nisso dia e noite, parava de trabalhar um instante para
sonhar na internet, essa é a vantagem de trabalhar por conta própria.
Eu não tinha alegria em desfrutar a vida cotidiana,
usava desculpas para ser infeliz, não possuía sensibilidade e nem percebia as
coisas boas que me aconteciam. Eu poderia ganhar o Oscar na categoria “sonsa”.
Por muitas vezes banquei a feliz, às vezes me
transformava numa estranha para mim mesma, meu estilo de vida era sem brilho,
eu não era obrigada a gostar de ninguém e nem os outros me aceitavam.
Comecei a conjugar o verbo consumir, esse era meu
propósito, tinha coisas que nem tirava da etiqueta, coisas que se perdia no meu
armário e nunca mais via. Depois de um tempo escolhi viver.
Todo discurso de como ele havia sido cuidadoso,
delicado e amoroso dificultava meu processo de desapego, eu constantemente
colocava o choro para dentro, só para passar a sensação de bem-estar.
Por muitas vezes fiz sexo adormecida, roguei pragas
possíveis. Fiquei fanática por vestidos, extrai todas as lições que pude e
abracei com força a saudade, fiquei irreconhecível e até meu tom de voz era
outro.
Cresci com grande liberdade e tinha horror a ordens
de qualquer grau, valorizava pouco quem estava próximo, as coisas acabavam
piorando a cada dia. Um cansaço tomava conta de mim, eu me sentia em estado de
combate.
Para muitos eu era egoísta, mas eu sempre achei que
não me amava, nunca gostei de incomodar ninguém com as minhas carências, precisava
de espaço na alma, de confiança em mim mesma. Eu era mocinha traumatizada!
Arcise Câmara
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