Não estou
descansando direito, durmo muito, ou durmo pouco e acabo cansada, gosto de conversas
transparentes, sem censura, gosto de cruzar destinos, gosto de olhar de
advertência, de declinações positivas, gosto de duvidar, de deixar o tempo
passar.
Gosto de frio
saudável, nada que me faça perder o nariz, gosto de ditar regras, de zombar das
convenções, gosto até de ter problemas para resolver, quero mais alguém no meu
mundo, um católico fervoroso, ou alguém que nunca tire conclusões precipitadas.
Gosto de show,
mas não curto tietagem, gosto de ciúmes, mas não curto ironias, gosto de me
esforçar para agradar, mas sem ter diante de si quais circunstâncias
recíprocas.
Amo ter um
parceiro inteligente, mas isso pode esperar, acho importante dar voz a quem te
ama, falar sem forçar, ter bons comportamentos, ter dó de cachorros e gatos
maltratados, deixar de ser taxativa.
Gosto de extravasar
as emoções, sem humilhar ninguém, gosto de lembrar da infância, onde eu era
amada, mimada e filha única, gosto de conhecer pessoas diferentes de mim,
profundamente chateadas consigo mesmas, que jamais se deixam levar por uma
monotonia.
Gosto de
gente que entende as próprias bagunças, inclusive as do coração, gosto de descansar
um pouco, minimizar casos para não torná-los pesados demais para suportá-los,
gosto de seres humanos admiráveis, sem arrepios de ansiedade ou culpa.
Gosto de
gente que põe família em primeiro lugar, gente que já sofreu muito na vida por
uma tragédia, gente sem desculpas prontas, gente sem indiferença diante da dor,
gente que decide sozinha o próprio destino.
Gosto de
gente revoltada, que não se cala, que tem consideração, que não coloca a beleza
como algo suficiente, que não joga a vida fora com um casamento sem futuro.
Gosto de
gente que briga pelo que acredita, exatamente assim como eu, gosto de suportar
algumas ideias malucas, gosto de me sentir protegida, gosto de me imaginar numa
família feliz.
Gosto de
gente natural, que sabe se virar, que não fica deslumbrada por tudo, nem nitidamente
apavorada com a violência, gosto de perder o medo de viagens de avião, ué tenho
medo de avião sim.
Gosto de
coisas evidentes, aumento de salário, informação leviana em que você tem que
pesquisar para não repassar, gosto de como a vida funciona, como os destinos se
cruzam, como eu me faço de barata tonta.
Se eu
fizesse absolutamente tudo diferente, se eu tivesse mil razões para pedir planos
mais modestos, se tudo fizesse sentido, se todas as informações me levassem a
crer que você é bom para mim, mesmo assim teria dúvidas. Sim porque a vida
nunca me presenteou de maneira muito fácil, o céu nunca me mostrou estrelas
lindas, o barato nunca foi a leveza da vida, ela é dura comigo e u já me
acostumei.
A segurança
é precária, meu nível de empolgação acabou, os acontecimentos estremeceram meu
fim de semana, mas eu continuo com os mesmos interesses, busquei a terapia,
enfrentei a realidade, aprendi o que não se faz de jeito nenhum, eu não tenho
nada de boba.
Às vezes
tenho vontade de chutar o pau da barraca, tenho vontade de esconder a ansiedade,
de me dar o luxo de ficar nervosa, de dizer “deixa-que-eu-faço”, de derrapar na
falta de experiência com meus desafetos e perder mais uma festança. Às vezes me
canso em ser detalhista...
Arcise
Câmara
Imagem We It
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