Não podia
oferecer a menor resistência, meu marido mandava na relação, o posto dele de
chefia estava à frente do meu, eu era sua subordinada, ele mandava e eu
obedecia, ele impunha e eu seguia suas orientações sem questionamentos.
Com voz
sonolenta e ainda cansada eu me levantava para preparar-lhe o café da manhã,
para passar seu uniforme, para colocar lanche para as crianças levarem para
escola, para deixar tudo pronto, limpo e arrumado antes de sair para mais uma
jornada de trabalho. Acordava antes do sol despertar.
Quando a
conversa não era do seu agrado, bastava que ele olhasse para mim e eu me
calava, quando eu sorria com aquele sorriso fácil e gigante de sempre era
criticada com um movimento de cabeça que ia de um lado para o outro em forma de
não.
A minha
ansiedade começou a crescer e eu comecei a sentir prazer em comer por comer,
sem fome, sem vontade, somente como alternativa de serotonina e felicidade, era
a única atitude do momento que não causava alvoroço.
Logo após os primeiros
anos, eu já aceitava tudo com muita normalidade, anormal era a mulher que não
agia como eu. Eu nunca me senti ferida, eu tinha dado as chaves da minha vida
nas mãos do homem amado, ele poderia andar por nós dois.
Constantemente
eu era usada como escudo para justificativas de toda ordem, minha esposa não
quis ir, minha esposa não estava a fim, minha esposa adoeceu. Eu era totalmente
entusiasmada por ele e por esse efeito que ele causava em mim. Era meu jeito de
ser feliz. Meu Deus!
Hoje a noite ele
decidiu que íamos para uma festa, escolheu meu vestido, meu tom de esmalte,
minha maquiagem suave, ele não gostava de maquiagem carregada, acha que é coisa
de puta, ele assumia o comando, pediu que eu trocasse de sapato, aquele não
estava bonito.
Quando soube que
muita gente iria, que era uma festa grandiosa, desistiu de irmos, ele achou que
eu seria atacada por um monte de homens garanhões e que possivelmente não
saberia me defender, ele era rude e tinha medo de ser corno, como se isso fosse
possível, lembra em eu dei as chaves da minha vida em suas mãos, mas nada disso
o convencia.
Retirei o
vestido, fui para piscina e nadei um pouco para retirar de dentro de mim a
sensação de frustração, respirar na água me ajudava, não restava a menor dúvida
que a minha vida era uma fuga.
- Arcise Câmara
- Crédito de
Imagem: www.downloadswallpapers.com
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