sexta-feira, 23 de maio de 2014

Encolerizado


Ele não se machucou, mas sentiu uma raiva súbita que deu um murro que arrebentou a porta, eu fiquei atenta a cada movimento, senti um pânico inexplicável, não tive um minuto de descanso até ele finalmente se tranquilizar.
Recuei na minha reação, a minha vontade foi de xingar, gritar, chamá-lo de imaturo, sem inteligência emocional, um ogro, mas conservei os dentes, não poderia me expor a ira violenta e  idealista de quem não sabe se controlar.
Foi com tristeza que chorei, não cuidei de seu machucado na mão que sangrou, ele se machucou por conta própria, poderia ter pensado nas consequências, ele abusou da sorte, estava visivelmente nervoso.
Não era momento para discutir, mas seus ódios pessoais estavam fora de controle, ele poderia num surto matar alguém ou acabar com a própria vida, uma simples declaração divergente mudava o seu humor.
Ele se sentia um justiceiro, perdia tempo com picuinhas, não assumia responsabilidades de seus atos, exagerava nos erros.
Eu poderia responder a altura, tomar satisfação daqueles desastres, falar do inconformismo que sentia por ele ser assim, não escondia meu desapontamento e minha apreensão diante dos fatos, mas tinha medo de cutucar o dragão.
Toda vez que tocava no assunto, acabava em discussão, ele era o tempo todo preocupado e inquieto, errei na escolha, aquela aflição diária não era para meus nervos sensíveis, não podia fazer isso contra mim.
Todos nós temos o direito e até o dever de ser feliz, eu não queria uma vida cheia de tolices, vivendo sobre ameaças de alguém inconstante emocionalmente, preferia calar a magoar, aceitava todas as provocações sem reagir, mas martelando como fugir dessa situação.
Uma explosão de sentimentos me invadiu, nada mais fazia sentido. Chega! Eu disse a mim mesma, depois de várias noites em claro, sem sono e com a única certeza que permeava a minha vida. Desistir era a chave do sucesso.
Acredito que fiz de tudo, mudei a rotina, o elogiava por sua sensatez em dias tranquilos, experimentei a terapia e concordei e fazer junto, agradeci pela confiança em ele depositar em mim o controle de sua bipolaridade, mas queria me livrar disso tudo, não tinha porque carregar esse fardo tão pesado.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: cristianodigital.net


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