Ele não se
machucou, mas sentiu uma raiva súbita que deu um murro que arrebentou a porta,
eu fiquei atenta a cada movimento, senti um pânico inexplicável, não tive um
minuto de descanso até ele finalmente se tranquilizar.
Recuei na minha
reação, a minha vontade foi de xingar, gritar, chamá-lo de imaturo, sem
inteligência emocional, um ogro, mas conservei os dentes, não poderia me expor
a ira violenta e idealista de quem não
sabe se controlar.
Foi com tristeza
que chorei, não cuidei de seu machucado na mão que sangrou, ele se machucou por
conta própria, poderia ter pensado nas consequências, ele abusou da sorte,
estava visivelmente nervoso.
Não era momento
para discutir, mas seus ódios pessoais estavam fora de controle, ele poderia
num surto matar alguém ou acabar com a própria vida, uma simples declaração
divergente mudava o seu humor.
Ele se sentia um
justiceiro, perdia tempo com picuinhas, não assumia responsabilidades de seus
atos, exagerava nos erros.
Eu poderia
responder a altura, tomar satisfação daqueles desastres, falar do inconformismo
que sentia por ele ser assim, não escondia meu desapontamento e minha apreensão
diante dos fatos, mas tinha medo de cutucar o dragão.
Toda vez que
tocava no assunto, acabava em discussão, ele era o tempo todo preocupado e
inquieto, errei na escolha, aquela aflição diária não era para meus nervos
sensíveis, não podia fazer isso contra mim.
Todos nós temos
o direito e até o dever de ser feliz, eu não queria uma vida cheia de tolices,
vivendo sobre ameaças de alguém inconstante emocionalmente, preferia calar a
magoar, aceitava todas as provocações sem reagir, mas martelando como fugir
dessa situação.
Uma explosão de
sentimentos me invadiu, nada mais fazia sentido. Chega! Eu disse a mim mesma,
depois de várias noites em claro, sem sono e com a única certeza que permeava a
minha vida. Desistir era a chave do sucesso.
Acredito que fiz
de tudo, mudei a rotina, o elogiava por sua sensatez em dias tranquilos,
experimentei a terapia e concordei e fazer junto, agradeci pela confiança em
ele depositar em mim o controle de sua bipolaridade, mas queria me livrar disso
tudo, não tinha porque carregar esse fardo tão pesado.
- Arcise Câmara
- Crédito de
Imagem: cristianodigital.net
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