quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma moça cabocla


Cabelos compridos, negros e lisos, olhar ingênuo e angelical, pele morena e cor de jambo, assim é a cabocla de minha terra, mulher faceira, cunhantã e mulher. Quando a vi, desejei que o mundo parasse, que o dia não acabasse, fiquei excitado e inseguro, era muita beleza para uma mulher só. Seu nome era indígena, tinha uma vontade louca de conhecer outro lugares, conhecia o rio, o igarapé, a várzea e as terras vazantes, tinha um sonho, o de viajar, conhecer tudo aquilo que via na televisão, viajar para o estrangeiro, namorar um branco, usufruir da globalização para entregar seu coração.
 
Os dias pareciam todos iguais, mas a lendária cabocla o transformava em sonhos diariamente, sonhava que um dos visitantes se apaixonasse por ela, sonhava em casar e ter muitos filhos, quatro no mínimo, sonhava em ter o coração saltitante e as pernas trêmulas, queria uma vida diferente das meninas da sua terra, não queria engravidar cedo, nem se juntar aos colegas próximos, não queria uma vida igual as da sua irmãs, uma vida de mesmice e com as horas se arrastando entre o amanhecer e o entardecer.
 
Falando assim, parece até século passado, sonhos interioranos, mas ainda existe para muitas mulheres um único sonho, subir ao altar, sejam elas caboclas, brancas ou mulatas, pobres, ricas ou abastadas, o sonhos de ter alguém para viver a vida inteira, casar e procriar e viver uma vida de cuidar da casa e aguardar marido com as compras e o dinheiro do mês.
 
Parece um sonho pequeno, poderia ser desprezado por gente da cidade grande, mas sonho é sonho e todo sonho tem seu valor, faz mover montanhas e são possíveis de realizar, se assim nos propusemos a lutar.
 
Cabocla guerreira, lute por seus sonhos.
 
- Arcise Câmara

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