segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Sem priorizar a educação no Brasil, governo estuda importar profissionais


A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República discute conceder incentivos a imigrantes com qualificação profissional para virem trabalhar no Brasil. Com o discurso de que "formar mão de obra qualificada demora", o governo estuda a possibilidade de importar estrangeiros com formação no exterior para impulsionar o crescimento do país.
“A educação é o melhor caminho para isso [formar mão de obra qualificada], só que demora. E nós precisamos resolver isso agora, em um momento em que o país tem efetivamente que dar um salto de qualidade. Nós temos no mundo hoje jovens altamente qualificados, sobretudo na Europa, que estão desempregados”, ressaltou o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
O governo justifica os incentivos lembrando que o intercâmbio pode ser uma forma de estimular a população. Não há, porém, nenhum plano que objetive implantar melhorias rápidas e reais na educação brasileira para que a população local tenha condições de competir no mercado nacional e internacional.
“O Brasil precisa de mão de obra qualificada para avançar e nós temos o desafio de aumentar a produtividade do nosso parque industrial”, continuou o ministro.
“A melhor maneira de você transferir tecnologia é trazendo as pessoas, porque a tecnologia está na cabeça. São atitudes, hábitos, processos que as pessoas aprendem, desenvolvem e, se elas vieram para cá, elas podem fazer com que a gente acelere a solução da nossa necessidade”, seguiu Moreira Franco na tentativa de amenizar o pouco investimento na escolaridade do brasileiro.
Dados da secretaria mostram que, atualmente, apenas 0,3% da população brasileira é formada por imigrantes. Na Austrália, por exemplo, esse número é 20%. O Canadá tem 16% da força de trabalho composta por imigrantes, já o Brasil, tem 0,4% da sua população economicamente ativa formada por imigrantes. Nos países citados, diferentemente do que pode acontecer com o Brasil, os estrangeiros ocupam, majoritariamente, cargos de pouca qualificação intelectual.
Franco lembra da situação que Portugal e Espanha enfrentam em relação ao desemprego, que atinge, em algumas faixas etárias, mais de 40% da população. “Se nós pegarmos Portugal e Espanha, que tem um ambiente cultural muito favorável, não tem porque nós não sermos uma grande fonte para absorver toda essa mão de obra que está formada e procurando emprego”, disse.
O ministro ressaltou que o grupo deverá levantar informações, inicialmente, sobre que tipo de migrante o país quer atrair e a melhor forma para fazer isso. “Não é expectativa que a comissão já apresente uma política, mas eu tenho certeza que, pela excelência dos membros que a compõe, nós tenhamos um quadro que vá permitir, num momento imediatamente seguinte, mobilizar pessoas para formular uma política que atenda as necessidades do país”, disse.
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, o número de autorizações de trabalho concedidas pelo governo a pessoas vindas de fora cresceu quase 26% em 2011, com cerca de 70 mil novos vistos. Mais da metade das autorizações temporárias concedidas em 2011 foram para profissionais com nível superior completo. O número de mestres e doutores estrangeiros quase triplicou, passando de 584 para 1.734.
“Talvez o Brasil precise [conceder] 200 mil vistos por ano. Estamos avançando, mais talvez pela oferta mundial do que por uma política pró ativa”, disse o secretário de Ações Estratégicas da SAE, Ricardo Paes de Barros.
A estimativa do Ministério das Relações Exteriores é que mais de 2 milhões de estrangeiros legais tenham o Brasil como morada, o que supera a população do Uruguai.
O grupo de estudos criado para avaliar a questão terá reuniões mensais até novembro e conta com representantes do governo e de instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Fonte: Correio Braziliense

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