Quando tentei esmiuçar a minha resistência à cerimônia
púbica de casamento, tive de admitir que parte do problema era simplesmente
vergonha. Que coisa mais esquisita ficar em frente da família e dos amigos
(muito deles convidados do primeiro casamento) e fazer novamente promessas
solenes para a vida toda. Todos já tinham visto esse filme? A nossa
credibilidade começa a perder o lustro depois de tanta repetição. Um divórcio
pode parecer infortúnio, mas dois começa a parecer descuido. E três a culpa
recai toda para si. A culpa é sua!
Aprendi a rechaçar vários sentimentos de medo e de
choque, que na verdade os primeiros cônjuges nunca vão embora, nem que a gente
não fale mais com eles, é uma memória bruta e uma assinatura na alma, a gente
nunca esquece do sonho do “felizes para sempre”, mesmo que por mil vezes você
esteja convicta que a separação era o único destino.
A gente aprende até a fazer aquela voz de “nada me
abala”, o casamento concilia um monte de paradoxos: liberdade e compromisso,
força e subordinação, sabedoria e idiotice vigorosa e pragmática.
Em todas as sociedades são necessárias testemunhas na
hora de promessas importantes. A razão é que não é possível saber se alguém diz
a verdade ou mente ao fazer uma promessa. Eu não menti promessa, mas meu amor
foi embora rapidinho, nada foi o que eu esperava. Acho que no fundo a culpa e a
expectativa era toda minha.
Respeitar o casamento é condição para permanecer casado.
Eu até me recusava a fazer coisas simples e óbvias como sexo por exemplo. A
gente perde a admiração e o sexo vai junto, ele se perde, foge, sai de fininho.
Sei com certeza que há quem fique casado para sempre não
necessariamente por amar o cônjuge, mas por amar os próprios princípios. Eu às
vezes não me dava conta do que fazia ou deixava de fazer como esposa, aliás,
onde era mesmo que desfazia o botão?
No passado, tive de optar claramente entre honrar os meus
votos e honrar a minha vida e escolhi a mim, não à promessa. A minha vida era
cheia de dores de cabeças reais e inventadas. Estou injuriada com seus
julgamentos, estou cansada de explicar, de ouvir que não dou certo com ninguém,
na verdade eu quero dar certo comigo mesma, quero que as coisas fluam sem eu
deixar de ser louca, leve e normal.
Arcise Câmara
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