Quase
chorando de desapontamento e raiva, estava com sangue fervendo, eu não seria
uma mulher separada, marginalizada pela sociedade, trocada por uma garota com
metade da minha idade. Epa! Epa! Pode parar eu vou infernizar a sua vida, você
não pode me abandonar assim.
Aproveitei
essa irritação e experiência para refletir sobre suas atitudes, seu
comportamento, enquanto conversávamos raivosamente, odiava o fato de ter
deixado minha vida pessoal e profissional para me dedicar a família, nunca me
senti genial em todos os sentidos, mas cobrei pedágio pelo tempo que fiquei em
casa e pelo tempo que deixei de me dedicar a carreira.
Eu sempre
fui muito forte e ele sempre muito influente, éramos uma boa dupla, dois gênios
fortes e determinados, fui conferir as informações e me deparei com choque da
decisão tomada em se separar e foi aí que eu surtei de vez.
A insônia
tornara-se permanente, envelheci dez anos em dez dias, meu sonho nunca foi de
liberdade absoluta, nunca senti delírio em recomeçar a vida a cada longos anos,
vi que as lágrimas inundaram seu coração com pesar, com tristeza, com luto.
O fim foi
drástico, o que me levou até a pureza da alma, a acreditar que as coisas teriam
que ser dessa forma mesmo, dentro da mais profunda ética profissional começamos
a falar de divórcio com naturalidade, tratando principalmente dos pontos
financeiros.
Libertei a
vaidade escondida atrás da administração da casa, com o passar dos anos meu pavio
estava cada dia mais curto, comecei a me exibir com gestos, atitudes sociais ou
pessoais, mas não contava vantagem, não fazia autopropaganda e até me olhava
interna e externamente de uma de maneira equivocada.
O nosso amor
foi virando um sentimento neutro, amor sem fé e perdão, mas eu tinha medo de
estar criando aquilo tudo em sua cabeça, eu preferia perder a razão, eu
preferia gritar, mandar a merda, xingar, me sentir viva agredindo tudo e todos.
Milagres ou
loucura, fantasia ou delírio, minha nova realidade tinha que ser aceitada,
quando um não quer dois não brigam, depois eu fazia a reposição das perdas, o
importante era não olhar para trás.
Eu tinha
muitas qualidades, ainda sou linda sem falsa modesta, tenho uma situação
financeira boa, mas não preciso alardear, não me incomodo com pessoas de diferentes
religiões, tenho uma história política a conquistar, quero ter oportunidade de
mudar o mundo sem forjar propagandas mentirosas, sem lances de oportunismos e
manipulação da mídia, sem frustração de politizar o próprio bolso.
Tudo bem que
a rejeição não é o melhor sentimento do mundo, mas preciso ver as coisas de
frente, minha vida estava automatizada e vazia e nada era por acaso mesmo, por
vezes me lembrei do ditado: cuidado com o que desejas, quantas vezes desejei
estar livre, retomar minha vida profissional, nunca desejei ser trocada ou
traída, mas com o meu jeito de ser talvez a separação não viesse sem esses
motivos... Então nada é por acaso mesmo.
Tudo nessa
vida é um grande jogo de encaixes, sentirei falta das brigas, das chatices e do
lado bom que vivi, sentirei falta quando precisar de um marido para passear,
beijar, transar, sentirei saudade de alguém me dizer que estou cheirosinha ou
de sexo gostoso para estimular o sono fácil.
Quando eu
quero, ele não vem, quando não o quero, ele vem, um desencontro que não era
para ser, uma cachoeiras de choros escondidos, nada tinha muito fundamento,
comecei a duvidar se conseguiria me reerguer, não era parte do meu perfil agir
com rancor, ódio, irritação, mas não queria tornar as coisas fáceis demais,
obvias demais, leves demais.
Acreditava
que minha alma assumia o controle, meus músculos, nervos e pensamentos iam até
o fim, prolonguei os preparativos, li os acordos, gritei por dentro, ouvi um
disparate de baboseiras, ele tentou me culpar por tudo, usou as coisas que eu
disse como arma, numa tentativa ridícula de me chantagear. Não foi o melhor
fim, nem da melhor forma.
Arcise
Câmara
Imagem We It
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