quinta-feira, 2 de junho de 2016

Você poderia ter razão no conteúdo, mas perdeu tudo na forma

Meu amor fugitivo ;

Quase chorando de desapontamento e raiva, estava com sangue fervendo, eu não seria uma mulher separada, marginalizada pela sociedade, trocada por uma garota com metade da minha idade. Epa! Epa! Pode parar eu vou infernizar a sua vida, você não pode me abandonar assim.
Aproveitei essa irritação e experiência para refletir sobre suas atitudes, seu comportamento, enquanto conversávamos raivosamente, odiava o fato de ter deixado minha vida pessoal e profissional para me dedicar a família, nunca me senti genial em todos os sentidos, mas cobrei pedágio pelo tempo que fiquei em casa e pelo tempo que deixei de me dedicar a carreira.
Eu sempre fui muito forte e ele sempre muito influente, éramos uma boa dupla, dois gênios fortes e determinados, fui conferir as informações e me deparei com choque da decisão tomada em se separar e foi aí que eu surtei de vez.
A insônia tornara-se permanente, envelheci dez anos em dez dias, meu sonho nunca foi de liberdade absoluta, nunca senti delírio em recomeçar a vida a cada longos anos, vi que as lágrimas inundaram seu coração com pesar, com tristeza, com luto.
O fim foi drástico, o que me levou até a pureza da alma, a acreditar que as coisas teriam que ser dessa forma mesmo, dentro da mais profunda ética profissional começamos a falar de divórcio com naturalidade, tratando principalmente dos pontos financeiros.
Libertei a vaidade escondida atrás da administração da casa, com o passar dos anos meu pavio estava cada dia mais curto, comecei a me exibir com gestos, atitudes sociais ou pessoais, mas não contava vantagem, não fazia autopropaganda e até me olhava interna e externamente de uma de maneira equivocada.
O nosso amor foi virando um sentimento neutro, amor sem fé e perdão, mas eu tinha medo de estar criando aquilo tudo em sua cabeça, eu preferia perder a razão, eu preferia gritar, mandar a merda, xingar, me sentir viva agredindo tudo e todos.
Milagres ou loucura, fantasia ou delírio, minha nova realidade tinha que ser aceitada, quando um não quer dois não brigam, depois eu fazia a reposição das perdas, o importante era não olhar para trás.
Eu tinha muitas qualidades, ainda sou linda sem falsa modesta, tenho uma situação financeira boa, mas não preciso alardear, não me incomodo com pessoas de diferentes religiões, tenho uma história política a conquistar, quero ter oportunidade de mudar o mundo sem forjar propagandas mentirosas, sem lances de oportunismos e manipulação da mídia, sem frustração de politizar o próprio bolso.
Tudo bem que a rejeição não é o melhor sentimento do mundo, mas preciso ver as coisas de frente, minha vida estava automatizada e vazia e nada era por acaso mesmo, por vezes me lembrei do ditado: cuidado com o que desejas, quantas vezes desejei estar livre, retomar minha vida profissional, nunca desejei ser trocada ou traída, mas com o meu jeito de ser talvez a separação não viesse sem esses motivos... Então nada é por acaso mesmo.
Tudo nessa vida é um grande jogo de encaixes, sentirei falta das brigas, das chatices e do lado bom que vivi, sentirei falta quando precisar de um marido para passear, beijar, transar, sentirei saudade de alguém me dizer que estou cheirosinha ou de sexo gostoso para estimular o sono fácil.
Quando eu quero, ele não vem, quando não o quero, ele vem, um desencontro que não era para ser, uma cachoeiras de choros escondidos, nada tinha muito fundamento, comecei a duvidar se conseguiria me reerguer, não era parte do meu perfil agir com rancor, ódio, irritação, mas não queria tornar as coisas fáceis demais, obvias demais, leves demais.
Acreditava que minha alma assumia o controle, meus músculos, nervos e pensamentos iam até o fim, prolonguei os preparativos, li os acordos, gritei por dentro, ouvi um disparate de baboseiras, ele tentou me culpar por tudo, usou as coisas que eu disse como arma, numa tentativa ridícula de me chantagear. Não foi o melhor fim, nem da melhor forma.
Arcise Câmara
Imagem We It


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