Eu não
consegui dormir revivendo o que eu disse e não deveria ter dito, a situação
pouco agradável, eu tinha sofrido emoções fortes demais nas últimas duas
semanas, tinha me apaixonado perdidamente por um cliente, tinha terminado um
relacionamento de cinco meses, tinha um orgulho cravado no peito, tinha uma
religião arraigada desde criança, tudo parecia tão desigual, tão diferente.
Eu estava me
sentindo bonita, mas não confiante, eu estava na verdade seguindo um rastro na
rotina, os meus olhos arregalaram-se diante dos meus conflitos internos e a
minha cabeça não parava de funcionar enquanto ela deveria estar descansando.
Cheia de
ideias até o pescoço, nenhuma prova concreta que eu conseguiria dormir pelos próximos
dias, eu tinha o desejo de contar a minha paixão a primeira vista, sim eu
desistira de alguém para amar outro alguém, apesar de cinco meses juntos
tivemos a intensidade de poucos relacionamentos e éramos considerados modelo de
casal para todos, apesar dele ser retraído e quieto demais para o meu gosto.
Boa
oportunidade para unir o útil ao agradável, não queria demorar em relações que
me geravam dúvidas, ri muitas vezes dessa minha pressa em dar certo, provoquei
o destino que sempre foi danado comigo, fiquei curiosa em saber o que eu tinha
visto nele e ele em mim já que minha autoestima não era grandes coisas.
Voltei cheia
de ideia mirabolantes, estava ficando a cada dia mais apaixonada e pensando em
união, coisa que nunca pensei de fato direitinho, essas coisas não passavam
tanto pela minha cabeça, talvez a sabedoria, talvez a força de um divórcio,
talvez o colo amigo que nunca veio quando me senti só, traída e sem
expectativa.
Meu coração
não tinha necessidade de um amor tão rápido, meu corpo queria apenas dormir, eu
estava arrependida por algo que não voltaria atrás, você realmente diz algo que
não queria e se arrepende na mesma hora, mas e o enquanto será que acabou por
causa disso.
Não sei em
que acreditar e em que duvidar, aprendi que não dá para se envolver e ficar
aglutinando pensamentos por várias madrugadas, sei que isso não é bom, tinha
que ter um meio termo, a minha teoria e prática em dormir, dormir muito, minha
cabeça não poderia se transformar numa máquina registradora.
Esse
relacionamento todo arrumadinho não me convence, não é que eu curta uma briga,
não é que eu desafie teorias, não é que eu me sinta perdida, é que relações sem
divergências é escravidão para um dos lados.
Nem sempre
conseguimos o objetivo, às vezes sinto vergonha de ter sido trocada pelo
marido, outras, fico a contragosto de ser flagranteada trocando de namorado,
mas ele é tudo que eu queria para mim.
Nem sempre a
nossa cabeça trabalha em vão, eu era do tipo de pessoa que desistia por muito
menos, francamente eu ainda não recuperei a autoconfiança, não é que me sinta
incompetente, nem tenho provado o gosto amargo de tomar foras ou me achar
desinteressante, não é que eu esteja agindo ou reagindo de forma exagerada, ou
que estivesse deprimida ou infeliz, eu estava apenas agitada demais, em
duzentos e vinte volts como dizem.
Eu faço
parte de um núcleo que sente e vive o amor sem julgamentos, eu descubro a cada
dia que tudo vale a pena, eu não finjo ser o que não sou, não perco o controle
psicológico da relação, eu não sou muita coisa, mas não me acuso de coitadinha.
Coloquei
meus questionamentos contra a parede, fui digna em assumir o que me tirava o
sono, contei os dias para me restabelecer e descansar a mente como me convém,
dei sumiço aos problemas, desapareci de mim mesma, evitei pensar... Busquei
alegria e a serenidade em entender que nada volta atrás, nenhuma palavra dita
ou maldita, nenhuma atitude construída ou impulsionada, nenhum contato íntimo
ou superficial. Adivinhem, após entender esse universo de tempo, espaço, pensamento
e atitudes a única alternativa era apagar a luz e relaxar.
Arcise
Câmara
Imagem We It
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