Parecia
estar eternamente sorrindo, minha marca registrada, mas meu coração não sorria
há dois meses, muitas informações desencontradas, regras estabelecidas, anos de
repressão religiosa, função de mulher e homem, separação por gênero.
Foi difícil
admitir que eu encontrei uma conhecida em minha cama, correspondendo de maneira
apaixonada, observava a intrusa em silêncio sepulcral, queria ver os
finalmentes e a cara deles após o meu rum-rum, só se pisa na bola comigo, uma
vez, desisti facilmente, uma das coisas que eu exijo é ser amada de forma
parecida, sem ventos repentinos e surpresas desagradáveis na cama que também é
minha.
Estive incapaz
de tomar uma atitude para livrar-se da trombada que se mostrava inevitável,
meus ancestrais talvez entendessem com conhecimento de causa reconhecidos por
pseudo-karmas, necessárias transformações, arraigadas tradições.
Eu nunca
sequer entendi o significado do ritual cristão chamado casamento, mesmo sendo
uma festa bonita, elegante, alegre, carismática, de prazer e satisfação.
Os dias
pareciam mais curtos, era difícil calcular a falta de tempo, mas eu sempre
tinha um palpite otimista, sempre estava alegre e o casamento, acredite se
quiser, me deixou mais bonita.
Pedi o
divorcio, era mais majestoso do que fingir que não viu seu marido na cama com
sua amiga, expulsei os maus agouros, enxerguei a porta do céu, o meu bom-humor
era resultado da ansiedade de resolver tudo de uma vez.
Uma beleza
sem par, era esse o meu lema de felicidade, eu matava a minha sede de
romantismo na paquera, era o marco zero.
Comecei a
sentir um calor insuportável, estava nervosa, afoita, com medo e insegura, mas
era o calor a pior das sensações. Junto com o divorcio ganhei de brinde a
menopausa, nunca ansiei filhos, mas a escolha definitiva de não tê-los teve
como palavra final a natureza.
Não sabia se
teria nova chance de me organizar novamente para o amor, apesar de ser
assediada, eu não correspondia, não me sentia adequada aos bons partidos e não
me sentia livre suficiente ao ponto de curtir os maus partidos.
O momento
era literalmente divino, apesar de toda a crise, apesar das frustrações, apesar
das incertezas, estava amadurecendo e o melhor de tudo conhecendo a mim mesma.
Claro que
não faço apologia ao divórcio, ou, a falta de perdão, claro que acredito nos
recomeços e nas lições de perdão com sinceridade, em recomeços lentos que podem
levar a felicidade em longo prazo.
A vida
sexual estava insatisfatória, acho que todo casamento falido traz o
inconformismo de não haver tentado outros métodos de reciprocidade, antes que
eu me canse, preciso dizer que vi, ouvi, senti e vivi intensamente, esqueci as
próprias necessidades, tornei meu mundo importante e me impressionei até com a
minha postura diante do que mais temia: a maldita traição.
Passei um
tempo aliviando minha carência com a psicóloga, com os livros de autoajuda, com
a ajuda aos necessitados, me interessando pelos problemas de cada um, foi assim
que sorrisos forçados deram vez a sorrisos sinceros, assim também meus problemas
ficaram menores.
Arcise
Câmara
Imagem We It
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