sexta-feira, 29 de abril de 2016

Forçando um sorriso

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Parecia estar eternamente sorrindo, minha marca registrada, mas meu coração não sorria há dois meses, muitas informações desencontradas, regras estabelecidas, anos de repressão religiosa, função de mulher e homem, separação por gênero.
Foi difícil admitir que eu encontrei uma conhecida em minha cama, correspondendo de maneira apaixonada, observava a intrusa em silêncio sepulcral, queria ver os finalmentes e a cara deles após o meu rum-rum, só se pisa na bola comigo, uma vez, desisti facilmente, uma das coisas que eu exijo é ser amada de forma parecida, sem ventos repentinos e surpresas desagradáveis na cama que também é minha.
Estive incapaz de tomar uma atitude para livrar-se da trombada que se mostrava inevitável, meus ancestrais talvez entendessem com conhecimento de causa reconhecidos por pseudo-karmas, necessárias transformações, arraigadas tradições.
Eu nunca sequer entendi o significado do ritual cristão chamado casamento, mesmo sendo uma festa bonita, elegante, alegre, carismática, de prazer e satisfação.
Os dias pareciam mais curtos, era difícil calcular a falta de tempo, mas eu sempre tinha um palpite otimista, sempre estava alegre e o casamento, acredite se quiser, me deixou mais bonita.
Pedi o divorcio, era mais majestoso do que fingir que não viu seu marido na cama com sua amiga, expulsei os maus agouros, enxerguei a porta do céu, o meu bom-humor era resultado da ansiedade de resolver tudo de uma vez.
Uma beleza sem par, era esse o meu lema de felicidade, eu matava a minha sede de romantismo na paquera, era o marco zero.
Comecei a sentir um calor insuportável, estava nervosa, afoita, com medo e insegura, mas era o calor a pior das sensações. Junto com o divorcio ganhei de brinde a menopausa, nunca ansiei filhos, mas a escolha definitiva de não tê-los teve como palavra final a natureza.
Não sabia se teria nova chance de me organizar novamente para o amor, apesar de ser assediada, eu não correspondia, não me sentia adequada aos bons partidos e não me sentia livre suficiente ao ponto de curtir os maus partidos.
O momento era literalmente divino, apesar de toda a crise, apesar das frustrações, apesar das incertezas, estava amadurecendo e o melhor de tudo conhecendo a mim mesma.
Claro que não faço apologia ao divórcio, ou, a falta de perdão, claro que acredito nos recomeços e nas lições de perdão com sinceridade, em recomeços lentos que podem levar a felicidade em longo prazo.
A vida sexual estava insatisfatória, acho que todo casamento falido traz o inconformismo de não haver tentado outros métodos de reciprocidade, antes que eu me canse, preciso dizer que vi, ouvi, senti e vivi intensamente, esqueci as próprias necessidades, tornei meu mundo importante e me impressionei até com a minha postura diante do que mais temia: a maldita traição.
Passei um tempo aliviando minha carência com a psicóloga, com os livros de autoajuda, com a ajuda aos necessitados, me interessando pelos problemas de cada um, foi assim que sorrisos forçados deram vez a sorrisos sinceros, assim também meus problemas ficaram menores.
Arcise Câmara
Imagem We It


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