sexta-feira, 15 de abril de 2016

Eu não sentia nenhum prazer e por isso não cumpria meu papel de mulher

Il Faut Souffrir

Faltava a sensibilidade da amante, ele visivelmente ficava apavorado e surpreso quando eu tentava falar sobre o assunto, uma vez eu disse gargalhando que não sentia nada, para mim também era difícil admitir, eu era infantil e sexo sempre foi tabu para mim.
Por várias vezes disse “vem cá” na intenção de me satisfazer já que ele já tinha conseguido, mas novamente fiquei sem condições, por outras tentava dá a ele o maior prazer do mundo, mas sem retorno.
Eu tinha medo desse amor unilateral, eu tinha a ilusão da relação perfeita, simples, fácil, onde ambos estão dispostos a fazer o outro feliz, ele sentia uma intensa taquicardia por qualquer esforço, eu aproveitava as várias possibilidades, porém a cobrança que eu fazia a mim mesma era ensurdecedora.
Faz tempo que fiquei por fora de como era sentir prazer de verdade, eu esperava o dito-cujo aparecer, falava coisas melosas, dava-lhe muito amor, respeito, carinho, cumplicidade, mas ele estava cansado, não queria falar comigo, pedia para eu não me meter em certas coisas e que tudo não passava de coisas na minha cabeça.
Fiz uma escolha dolorosa, se eu não tinha prazer, ele também não teria, comecei a fugir, comecei a acreditar no que ele sentia de verdade era egoísmo ao invés de amor, comecei a perceber que enquanto não mudamos a zona de conforto dos outros eles não mudam por nós.
Eu estava até sonhando com sexo, acordando suada, fantasiando acordada, eu estava ficando dodói com essa crise sexual e com a aceitação desses problemas, as noites em casa ficaram desagradáveis demais.
Nem ele se sentia fisicamente a vontade comigo, nem eu com ele, nunca tivemos nojo nesse quesito, mas nunca nos entregamos de corpo e alma dos inconsequentes no amor, no prazer.
Eu me enforquei na própria corda, achava que sabia tudo, sentindo-me confiante, e cavando a própria sepultura quando tinha receios e medos ao expor o problema de frente.
Eu tive que aprender a perdoar minha falta de vontade, tive que evitar aprontar para me satisfazer, isso não era do meu feitio, tive que relaxar mais no banho, na vida, no dia a dia.
Eu tinha também que separar o assunto com fracasso, eu tinha que me sentir mulher com ou sem ajuda e sem os julgamentos da sociedade. Arrastei a relação por três anos e meio, minei minha confiança, tornei-me inexpressiva, ficava esperando o passado voltar, as risadas dos encontros, a paixão do primeiro instante, um amor exímio.
A paz não reinava durante muito tempo, deixei de ser tranquila para ser chata, havia percebido mudanças perceptivas na personalidade dele, ai, ai, ai eu tinha me enganado, estava pouco a pouco menos confiante em mim mesma.
Corriquei um pouquinho observando outros casais, suas sensações de felicidade aparente, o “manda ver” na hora da pegada, consegui disfarçar a submissão, fiquei contida e nunca revelei que daquele jeito não era o melhor jeito, eu o pedia para esperar e ele não obedecia.
Ele estimulava muito minha curiosidade intelectual, tinha um carisma encantador, nunca imaginei minha vida sem ele, nunca alimentei raiva nem mágoa, sempre pus pedras sobre o passado, sobre os erros, sobre as feridas, mas nunca fiquei à vontade para o sexo, era assustador e real saber que eu não chegaria a lugar nenhum.
Arcise Câmara

Imagem We It

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