Faltava a
sensibilidade da amante, ele visivelmente ficava apavorado e surpreso quando eu
tentava falar sobre o assunto, uma vez eu disse gargalhando que não sentia
nada, para mim também era difícil admitir, eu era infantil e sexo sempre foi
tabu para mim.
Por várias
vezes disse “vem cá” na intenção de me satisfazer já que ele já tinha
conseguido, mas novamente fiquei sem condições, por outras tentava dá a ele o
maior prazer do mundo, mas sem retorno.
Eu tinha
medo desse amor unilateral, eu tinha a ilusão da relação perfeita, simples,
fácil, onde ambos estão dispostos a fazer o outro feliz, ele sentia uma intensa
taquicardia por qualquer esforço, eu aproveitava as várias possibilidades,
porém a cobrança que eu fazia a mim mesma era ensurdecedora.
Faz tempo
que fiquei por fora de como era sentir prazer de verdade, eu esperava o
dito-cujo aparecer, falava coisas melosas, dava-lhe muito amor, respeito, carinho,
cumplicidade, mas ele estava cansado, não queria falar comigo, pedia para eu
não me meter em certas coisas e que tudo não passava de coisas na minha cabeça.
Fiz uma
escolha dolorosa, se eu não tinha prazer, ele também não teria, comecei a
fugir, comecei a acreditar no que ele sentia de verdade era egoísmo ao invés de
amor, comecei a perceber que enquanto não mudamos a zona de conforto dos outros
eles não mudam por nós.
Eu estava
até sonhando com sexo, acordando suada, fantasiando acordada, eu estava ficando
dodói com essa crise sexual e com a aceitação desses problemas, as noites em
casa ficaram desagradáveis demais.
Nem ele se
sentia fisicamente a vontade comigo, nem eu com ele, nunca tivemos nojo nesse
quesito, mas nunca nos entregamos de corpo e alma dos inconsequentes no amor,
no prazer.
Eu me
enforquei na própria corda, achava que sabia tudo, sentindo-me confiante, e
cavando a própria sepultura quando tinha receios e medos ao expor o problema de
frente.
Eu tive que
aprender a perdoar minha falta de vontade, tive que evitar aprontar para me
satisfazer, isso não era do meu feitio, tive que relaxar mais no banho, na
vida, no dia a dia.
Eu tinha
também que separar o assunto com fracasso, eu tinha que me sentir mulher com ou
sem ajuda e sem os julgamentos da sociedade. Arrastei a relação por três anos e
meio, minei minha confiança, tornei-me inexpressiva, ficava esperando o passado
voltar, as risadas dos encontros, a paixão do primeiro instante, um amor
exímio.
A paz não reinava
durante muito tempo, deixei de ser tranquila para ser chata, havia percebido
mudanças perceptivas na personalidade dele, ai, ai, ai eu tinha me enganado,
estava pouco a pouco menos confiante em mim mesma.
Corriquei um
pouquinho observando outros casais, suas sensações de felicidade aparente, o “manda
ver” na hora da pegada, consegui disfarçar a submissão, fiquei contida e nunca
revelei que daquele jeito não era o melhor jeito, eu o pedia para esperar e ele
não obedecia.
Ele
estimulava muito minha curiosidade intelectual, tinha um carisma encantador,
nunca imaginei minha vida sem ele, nunca alimentei raiva nem mágoa, sempre pus
pedras sobre o passado, sobre os erros, sobre as feridas, mas nunca fiquei à
vontade para o sexo, era assustador e real saber que eu não chegaria a lugar
nenhum.
Arcise
Câmara
Imagem We It
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