domingo, 9 de fevereiro de 2014

Dedicava atenção total


Gosto de pagode e me afastei, gosto de samba de raiz e deixei de frequentar, gosto de privacidade e minha casa ficou repleta de gente, gosto de ficar à vontade em casa e isso desrespeitava meu companheiro.
 Trabalhava em casa no meu escritório, mas não me concentrava porque eu sempre tinha que levantar para pegar água, suco, achar cuecas e meias ou o paletó que estava pendurado na cadeira visível a qualquer um.
Apesar das minhas falhas, eu doava total atenção em detrimento a minha anulação. Anulei meus gostos pessoais, anulei as próprias escolhas, deixei de ser seletiva com as amizades, abracei as amizades do companheiro como minhas.
Quando se trata de relacionamentos amorosos sou totalmente imatura, piso em areia movediça, sigo minha vida em reticências, repito os mesmo erros e faço tudo igual como se fosse acertar da próxima vez.
Depois de um certo tempo juntos, ele me tratava como uma criança, dava ordens até para coisas que eu tinha condições de decidir sozinha, eu era direcionada o tempo todo, estava adestrada sem me dar conta.
O meu senso de humor desapareceu, começou a pesar sobre meus ombros o fato de eu não existir totalmente, compensei a minha ausência de atitudes me rebelando, sendo grossa, amarga, chata, cri cri, nem eu mesma conseguia formar uma opinião ao meu respeito.
Ele é muito inteligente, sábio, sabia conquistar e cativar pessoas, sabia perguntar o que eu queria e onde desejava ir, mas dolorosamente sincero ao dizer que fiz uma péssima escolha e por causa disso iríamos a outro lugar.
Eu levava desvantagem em qualquer discussão, não estava preparada para argumentar, eu não conseguia bater de frente pois a qualquer sinal de contrariedade a solução seria a separação e essa resolução dos problemas me deixava sem chão e com vontade de morrer, então era melhor ceder mais uma vez.
E eu que sempre achei fácil amar, sempre achei que esse sentimento brota de forma espontânea e natural e que pelo fato deu ser bondosa e ter uma energia contagiante as coisa fossem fluir despreocupadamente. Ledo engano meu coração ficou só sabugos.
Fui abençoada pelo universo, ele se livrou de mim, desistiu e partiu, a princípio fiquei com alto teor de melancolia, mas com o tempo amadureci a ideia e percebi que nossas personalidades eram conflitantes.
Seu cheiro ficou meses pela casa, eu o escutava tocar piano todas as noites, sonhava histórias curiosas da gente feliz, recebia as bênçãos de seus pais para o enlace, recordava da minha infância e dos projetos de uma vida a dois estupidamente feliz. De repente o tempo passou e eu passei a ter a consciência das coisas, passei a entender o ciclo da nossa relação, estava pronta para o velório rodeada de parentes e amigos apoiando minha desgastada emoção.
Eu tinha a possibilidade de seguir em frente, eram tantos contrastes, eu tinha que aprender a me virar sozinha, a decidir sozinha, aprender a dirigir, gradativamente todas as respostas de perguntas feitas durante anos foram respondias desassociadas à emoção.
Completamente desorientada no mundo dos solteiro, aprendi a admirar a solidão, internalizei o “nada acontece por acaso” e me preparei para esta fase que foi mais fácil do que eu imaginava passar, entendi que tudo era readaptação e não obstáculos a serem superados.
Uma sensação nova me invadiu a alma, os laços afetivos que me prendiam a ele se rompeu, assim me senti mais livre, lúcida, amiga, dedicada, compreensiva, com a sabedoria de uma Ph.D. e cheia de atitudes coerentes.
Acontecimentos agradáveis e desagradáveis fazem parte da nossa vida, não dar para ficar no chão se lamentando na primeira queda, não dar para anular toda e qualquer possibilidade de relacionamento sadio e sincero com os outros, não dar para achar que sempre será fracassos emocionais.
Minha maior dificuldade foi perceber a realidade que não me pertencia mais, de seguir sem olhar para trás e de ser feliz por mim mesma.
- Arcise Câmara

- Crédito de Imagem: http://anibalpires.blogspot.com

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