Gosto de pagode e me afastei, gosto
de samba de raiz e deixei de frequentar, gosto de privacidade e minha casa
ficou repleta de gente, gosto de ficar à vontade em casa e isso desrespeitava
meu companheiro.
Trabalhava em casa no meu escritório, mas não
me concentrava porque eu sempre tinha que levantar para pegar água, suco, achar
cuecas e meias ou o paletó que estava pendurado na cadeira visível a qualquer
um.
Apesar das minhas falhas, eu doava
total atenção em detrimento a minha anulação. Anulei meus gostos pessoais,
anulei as próprias escolhas, deixei de ser seletiva com as amizades, abracei as
amizades do companheiro como minhas.
Quando se trata de relacionamentos
amorosos sou totalmente imatura, piso em areia movediça, sigo minha vida em
reticências, repito os mesmo erros e faço tudo igual como se fosse acertar da
próxima vez.
Depois de um certo tempo juntos, ele
me tratava como uma criança, dava ordens até para coisas que eu tinha condições
de decidir sozinha, eu era direcionada o tempo todo, estava adestrada sem me
dar conta.
O meu senso de humor desapareceu,
começou a pesar sobre meus ombros o fato de eu não existir totalmente, compensei
a minha ausência de atitudes me rebelando, sendo grossa, amarga, chata, cri
cri, nem eu mesma conseguia formar uma opinião ao meu respeito.
Ele é muito inteligente, sábio, sabia
conquistar e cativar pessoas, sabia perguntar o que eu queria e onde desejava
ir, mas dolorosamente sincero ao dizer que fiz uma péssima escolha e por causa
disso iríamos a outro lugar.
Eu levava desvantagem em qualquer
discussão, não estava preparada para argumentar, eu não conseguia bater de
frente pois a qualquer sinal de contrariedade a solução seria a separação e
essa resolução dos problemas me deixava sem chão e com vontade de morrer, então
era melhor ceder mais uma vez.
E eu que sempre achei fácil amar,
sempre achei que esse sentimento brota de forma espontânea e natural e que pelo
fato deu ser bondosa e ter uma energia contagiante as coisa fossem fluir
despreocupadamente. Ledo engano meu coração ficou só sabugos.
Fui abençoada pelo universo, ele se
livrou de mim, desistiu e partiu, a princípio fiquei com alto teor de melancolia,
mas com o tempo amadureci a ideia e percebi que nossas personalidades eram
conflitantes.
Seu cheiro ficou meses pela casa, eu
o escutava tocar piano todas as noites, sonhava histórias curiosas da gente
feliz, recebia as bênçãos de seus pais para o enlace, recordava da minha
infância e dos projetos de uma vida a dois estupidamente feliz. De repente o
tempo passou e eu passei a ter a consciência das coisas, passei a entender o
ciclo da nossa relação, estava pronta para o velório rodeada de parentes e
amigos apoiando minha desgastada emoção.
Eu tinha a possibilidade de seguir em
frente, eram tantos contrastes, eu tinha que aprender a me virar sozinha, a
decidir sozinha, aprender a dirigir, gradativamente todas as respostas de
perguntas feitas durante anos foram respondias desassociadas à emoção.
Completamente desorientada no mundo
dos solteiro, aprendi a admirar a solidão, internalizei o “nada acontece por
acaso” e me preparei para esta fase que foi mais fácil do que eu imaginava
passar, entendi que tudo era readaptação e não obstáculos a serem superados.
Uma sensação nova me invadiu a alma,
os laços afetivos que me prendiam a ele se rompeu, assim me senti mais livre,
lúcida, amiga, dedicada, compreensiva, com a sabedoria de uma Ph.D. e cheia de
atitudes coerentes.
Acontecimentos agradáveis e
desagradáveis fazem parte da nossa vida, não dar para ficar no chão se
lamentando na primeira queda, não dar para anular toda e qualquer possibilidade
de relacionamento sadio e sincero com os outros, não dar para achar que sempre
será fracassos emocionais.
Minha maior dificuldade foi perceber
a realidade que não me pertencia mais, de seguir sem olhar para trás e de ser
feliz por mim mesma.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: http://anibalpires.blogspot.com
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