sábado, 23 de março de 2013

Infância que não vivi


A minha mãe tinha a mania de guardar em caixas e plásticos minhas bonecas, era para tê-las quando estivesse mocinha, era para ser herança para quando tivesse minhas filhas, era para enfeitar o quarto, deixar as prateleiras bonitas, mas não era para eu viver e curti-las e quem sabe quebrá-las de tanto brincar, ou brincar com elas pichadas de pincéis e lápis de cor, ou ainda brincar em forma de Saci Pererê e essa é a parte da minha infância que não vivi, por conta disso, masculinizei as brincadeiras de infância  andava de skate, brincava de bolinha de gude, subia em árvores e curti  muito as brincadeiras de rua com os meus vizinhos. Eu não me lamento por isso (mentira!) queria sim, ter tido a oportunidade de aprimorar a criatividade inventando histórias para mim, minha filha (boneca) e minhas comidinhas.
 
Não sou muito romântica, meu Deus! Não sei brincar de casinha nem na vida real, não sei esperar maridinho com comidinhas gostosas quando não estou a fim ou quando o cansaço me domina, não sei estar sempre disposta para o sexo mesmo sem vontade, não sei viver um mundo de contos de fadas, aliás a única coisa em que minha historia de vida se parece com contos é a parte do amor, do querer bem, do sentimento profundo e verdadeiro, mas sem a escravidão do faço-tudo-para-te-agradar ou do sem-você-não-sei-viver.
 
Os livros me ensinam muito e sou apaixonada por eles, o bom dos livros é que me sinto igual, não me sinto fora de órbita por pensar que devo agradar a mim mesma, e sim, ao amado, mas no meu tempo e não no aqui e agora. Sou do tipo de pessoa que não releio livros, uma vez lido não me serve mais, poderia ser adepta de bibliotecas e empréstimos, mas prefiro comprá-los, ter a posse de cada letra digitada, me sentir dona de todo aquele aprendizado, assim como não fui das bonecas da minha infância, elas não me pertenciam, tinham uma dona chamada mamãe. Prefiro livros novos e já cheguei a conclusão de que dificilmente "releio" relacionamentos, "releio" pessoas, "releio" o que passou, sempre prefiro as novas aventuras, aquelas que não sei o final, não sei como o personagem se comporta, não sei os mistérios da relação, prefiro não saber se as fichas que estou apostando me levam ao paraíso ou ao inferno, mesmo que o meu caminho escolhido seja o paraíso e lute por isso sozinha ou acompanhada.
 
- Arcise Câmara

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