quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A curiosidade matou o gato


 

A curiosidade matou o gato. Mas aposto que mata mais gente do que bichanos indefesos. A tragédia sempre tem público. Um ciclone extratropical anunciado e alardeado passou varrendo o sul do país. Nem bem o vento acalmou, ainda com raios rasgando o céu, já havia um batalhão de pessoas a postos pelas ruas. Voluntários para ajudar? Não. Era um exército de curiosos pela desgraça alheia. 
Daquelas pessoas que saboreiam páginas policiais, programas sensacionalistas na tv e coisas assim. Ficam excitadas ao ouvir uma sirene de ambulância, bombeiros ou polícia, capazes de empreender perseguições às viaturas só para ver do que se trata. Não se contentam em atrapalhar o trânsito, bloquear a passagem e dificultar o socorro. Armados de aparelhos celulares com câmeras de alta resolução e baixo senso de racionalidade. 
Tenho extrema dificuldade em entender esse gosto pelo sinistro. Aliás, percebo uma certa frustração nas falas quando referem-se a acontecimentos em que não houve derramamento de sangue, ossos quebrados ou alto grau de destruição material. Quase como um público que pede o dinheiro de volta por não ter gostado do espetáculo. 
E eu tenho certeza de que o gato morreu foi de desgosto, pois andamos fazendo concorrência ao mundo dos ditos irracionais.
Fonte: Bordel Bordado - Lígia Cargnelutti

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