A curiosidade matou o gato. Mas
aposto que mata mais gente do que bichanos indefesos. A tragédia sempre tem
público. Um ciclone extratropical anunciado e alardeado passou varrendo o sul
do país. Nem bem o vento acalmou, ainda com raios rasgando o céu, já havia um
batalhão de pessoas a postos pelas ruas. Voluntários para ajudar? Não. Era um
exército de curiosos pela desgraça alheia.
Daquelas pessoas que saboreiam
páginas policiais, programas sensacionalistas na tv e coisas assim. Ficam excitadas
ao ouvir uma sirene de ambulância, bombeiros ou polícia, capazes de empreender
perseguições às viaturas só para ver do que se trata. Não se contentam em
atrapalhar o trânsito, bloquear a passagem e dificultar o socorro. Armados de
aparelhos celulares com câmeras de alta resolução e baixo senso de
racionalidade.
Tenho extrema dificuldade em
entender esse gosto pelo sinistro. Aliás, percebo uma certa frustração nas
falas quando referem-se a acontecimentos em que não houve derramamento de
sangue, ossos quebrados ou alto grau de destruição material. Quase como um
público que pede o dinheiro de volta por não ter gostado do espetáculo.
E eu tenho certeza de que o gato
morreu foi de desgosto, pois andamos fazendo concorrência ao mundo dos ditos
irracionais.
Fonte: Bordel Bordado - Lígia Cargnelutti
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