Meu interior parecia um circo sem alma, aparentemente uma
coisa não tem nada a ver com a outra, eu parecia bem, mas algo me incomodava, o
reino da confusão interior nascia aqui dentro de mim.
Tive que deixar minha alma conversar comigo, eu me
perguntava quem eu sou quando ninguém está olhando. Parecia que tudo era bom,
bonito, útil, embora não seja a opinião do temperamento da maioria.
Não guardei mágoa e nem rancor de ninguém, eu não era uma
garota passiva, tudo que eu contemplava ao meu redor é o reflexo
materializado do meu desejo como indivíduo, como dizem por aí “O homem não empresta suas asas a outro homem”.
Nós somos os únicos mamíferos que bebe leite depois de
adulto e isso faz com que eu pense que a gente faz muitas coisas por
convenções, sem ao menos se questionar o porquê.
Não tenho dívidas do quanto tentei mudar, me encaixar,
estar bonita apesar de todo esforço para não ser, queria pelo menos ser melhor daqui
há dez anos. Quando eu me olhava no espelho, eu enxergava a minha alma.
Como tudo que está no prato, sempre fui assim, mesmo que
o olho fosse maior que a barriga, sei lá, não sinto só sabor de comida, sinto
sabor de amor, de amizade. Eu comecei a me sentir livre, aceitei que as coisas
acontecem como ela acontece.
Sempre tinha uma carta na manga, a ideia de recomeçar é
esmagadora, a gente tem dificuldade em mudar, mudanças doem, a natureza vai
copiando o homem e se transformando cada vez mais lentamente.
Emagreci e fiquei esquelética, alguns caras insistentes
que querem dar em cima de você mesmo com alguns nãos e ainda nos responsabiliza
por aquilo que eles fazem, cheios de referências diretas e indiretas.
Eu precisava gostar de ficar sozinha, eu ansiava por
analisar aqueles papéis que guardava a sete chaves desde a juventude, meus
diários me ressuscitavam como ser humano.
Minhas palavras tinham sido difíceis de ouvir, conhecer a
nós mesmos é algo de muita profundidade. Eu não parecia ficar emocionalmente
próxima de nenhuma das duas mulheres que me amavam: minha mãe e minha filha. Saudade
desse ofício de dar e receber amor.
Arcise Câmara
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