Esse ano eu esperei o Natal com muita
ansiedade, nesses tempos morando sozinha (duas décadas) nunca tive presépio e
fecho o ano com dois presépios, um que ganhei de um amigo italiano e outro
regionalíssimo que mandei fazer com a artesã em meados de outubro, encomendados
e pago desde o ano passado.
Fim de maio desse ano, eu tomei a iniciativa
de decidir não comprar por um ano, isso não incluía higiene pessoal, presentes,
ajuda, mas evitar consumo mesmo, tendo em vista a quantidade de roupas,
calçados e acessórios que não cabiam mais no meu guarda roupa. Eu precisava de
blusas de academia, mas poderia emprestá-las da minha mãe. Eu precisava
entender o quanto a vida não faz muito sentido com tanto consumismo.
Esse ano foi um ano de avaliar
decisões, evitar pé de guerra, conviver com parcimônia, aceitar pessoas
diferentes, evitar censuras, esse ano foi o ano de medo, do cansaço, do
bloqueio, esse ano eu prestei atenção no que eu digo e faço de verdade.
Sei que esse texto está parecendo texto de
fim de ano, mas Natal para mim é renascimento e renascer é botar tudo no papel,
o que deu e não deu certo, o que foi bom, mas pode ficar melhor, o que tem que
ir para a lixeira e não se pensa mais nisso.
A história de Jesus continua emocionando,
talvez hoje ele estivesse em uma maca no corredor de um hospital público, ou
estivesse com ferimentos múltiplos feitos por um policial que não sabe abordar
pobres e negros, talvez ele pudesse desistir do plano da salvação em meio a
tantos casos de pedofilia...
O mundo está cheio de histórias (bem triste,
por sinal), o mundo transformou natal em consumo, o mundo preferiu a risada a
reflexão, o que vale hoje é o que você diz, como você se apresenta, ninguém se
importa muito se o comportamento da pessoa no mundo real demonstraria a pouca
correspondência entre o que diz e o que faz.
A gente tenta ser gentil e tropeça, a gente
fica naquilo de observar os atos, mas no fundo se ilude com palavras, a gente
desiste do namoro no primeiro mês porque ele não pagou as contas, a gente toma
decisões em cima do nosso mundinho egoísta.
A vida também é feita para ser observada,
quantas vezes fomos mala, quantas vezes nossa serenidade deixou de existir,
quantas vezes nos alteramos por bobagens, quantas vezes devemos desculpas a nós
mesmas por tanta falta de tato, por vezes somos irredutíveis.
Hoje é dia de cultivar a paciência, de
descobrir sua identidade, de evitar ranger de dentes, hoje é dia de desculpar,
de não perturbar-se, de evitar ser mal-educado, dia de ser exemplo.
Hoje é dia de fazer jus à comunicação verbal
e perfeita do olho no olho, de ser gente fina, ter consideração com os outros,
ser especial na vida de alguém, hoje é dia de estar acima de qualquer estereotipo,
ser simpática, generosa, aquela que sabe dizer sim e não, aquela que não
paralisa nas humilhações e ofensas.
Hoje é Natal!
Recomeços e vida nova!
Feliz Natal e que Jesus renasça em nossos
corações.
Arcise Câmara
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