No início
senti culpa, culpa por me sentir responsável, culpa por não fazer dar certo, eu
me sentia inteiramente arrependida de não tentar só mais essa vez, eu assumia a
responsabilidade pela incompatibilidade.
O sentimento
cavoucou, estava cada dia menos apaixonada, nosso namoro aos olhos dos outros
era uma superembalagem, mas para nós, um vazio interno. Reconheço suas
qualidades, reconheço sua generosidade sem limites, mas não consigo ter um
namoro convencional que não me causa alegria, excitação, paixão...
Vejo o
casamento como uma profissão, algo que te faz feliz, motivada para estar
presente todos os dias, para acordar sorrindo e bem disposta, para lutar com
garras, atravessar uma parede, conquistar o amado a cada dia, ter saudade a
cada hora e pra quê eu ia continuar esse namoro sem graça.
Eu adorava
lembrar os momentos de felicidade, porém eu pressentia o perigo, eu sabia que
tudo havia passado, que não estávamos muito próximos como antes, faltava de
capacidade de percepção e estávamos interpretando de forma errada a realidade.
Superei o
sentimento de culpa, apeguei-me a fé, talvez me arrependa amargamente por conta
de sua generosidade, conduta ética, tolerância, alegria, concentração e
sabedoria, mas no momento esses adjetivos só serviam para os outros, comigo
eram quatro pedras na mão.
Deixar as
coisas como estavam não é um assunto que não me pertence, viver na mentira, com
a tendência para discórdia, com palavras cruéis em uso, com discursos
incoerentes dentro e fora de casa não funciona comigo.
Eu não
cobiçava seu prestígio, não tinha más intenções, não fazia juízos equivocados,
mas era assim que ele me via e foi por isso que meu coração desistiu de tudo.
Qualquer
coisa que eu dissesse ele se contradizia, senti que chegava a hora de o
abandonar, senti que tinha que ser mulher para sair fora e evitar passar as
noites em sua companhia em silêncio.
Minha aparência
ficou diferente do mundo, não escolhi um namoro fracassado, ele aconteceu e por
mais que eu quisesse me livrar daquela situação, isso me fez sofrer, por mais
que existissem sucessivos ciclos de problemas eu preferia a felicidade.
Sou muito
equilibrada, vejo tudo com naturalidade, mas deixei de comer, deixei de dormir,
deixei de me arrumar, os acontecimentos estavam influenciando minhas ações e eu
me perguntava sobre o futuro eu estava com quarenta e dois anos querendo
recomeçar do zero e aparentemente o problema dos meus relacionamentos era eu.
Não disse
tudo que eu queria dizer, achei que não cabia, se eu estava desistindo porque
magoar o outro, ferir em demasia, não fiz muitas concessões, deixei ele livre
para ser meu amigo se assim desejasse, desejei do fundo do meu coração
felicidades, mas omiti e não verbalizei.
Ao término
fui correr para nenhum lugar, sacudi os ombros, alonguei, me senti impotente
diante da vida, diante das minhas escolhas, todos os casais ao meu redor
pareciam felizes, somente eu tinha um bichinho dentro do peito com exigências
supremas.
Eu me
empenhei, correspondi esse amor à altura, ele continua a me amar (palavras
dele), sou audaciosa e moderninha, sei levar a vida muito bem sozinha, acredito
que a bondade deve vir de dentro e quando acho crueldade nas palavras e ódio
nos olhos não consigo recomeçar.
Vez ou outra nos beijamos loucamente, nada
fica sempre igual, é uma esperança para ele, mas aparentemente não quero nada,
não sinto vazio a ser preenchido, apenas vontade de beijar, beijar, beijar...
Arcise
Câmara
Imagem We Heart It
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