quinta-feira, 21 de julho de 2016

Sentimento incompatível

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No início senti culpa, culpa por me sentir responsável, culpa por não fazer dar certo, eu me sentia inteiramente arrependida de não tentar só mais essa vez, eu assumia a responsabilidade pela incompatibilidade.
O sentimento cavoucou, estava cada dia menos apaixonada, nosso namoro aos olhos dos outros era uma superembalagem, mas para nós, um vazio interno. Reconheço suas qualidades, reconheço sua generosidade sem limites, mas não consigo ter um namoro convencional que não me causa alegria, excitação, paixão...
Vejo o casamento como uma profissão, algo que te faz feliz, motivada para estar presente todos os dias, para acordar sorrindo e bem disposta, para lutar com garras, atravessar uma parede, conquistar o amado a cada dia, ter saudade a cada hora e pra quê eu ia continuar esse namoro sem graça.
Eu adorava lembrar os momentos de felicidade, porém eu pressentia o perigo, eu sabia que tudo havia passado, que não estávamos muito próximos como antes, faltava de capacidade de percepção e estávamos interpretando de forma errada a realidade.
Superei o sentimento de culpa, apeguei-me a fé, talvez me arrependa amargamente por conta de sua generosidade, conduta ética, tolerância, alegria, concentração e sabedoria, mas no momento esses adjetivos só serviam para os outros, comigo eram quatro pedras na mão.
Deixar as coisas como estavam não é um assunto que não me pertence, viver na mentira, com a tendência para discórdia, com palavras cruéis em uso, com discursos incoerentes dentro e fora de casa não funciona comigo.
Eu não cobiçava seu prestígio, não tinha más intenções, não fazia juízos equivocados, mas era assim que ele me via e foi por isso que meu coração desistiu de tudo.
Qualquer coisa que eu dissesse ele se contradizia, senti que chegava a hora de o abandonar, senti que tinha que ser mulher para sair fora e evitar passar as noites em sua companhia em silêncio.
Minha aparência ficou diferente do mundo, não escolhi um namoro fracassado, ele aconteceu e por mais que eu quisesse me livrar daquela situação, isso me fez sofrer, por mais que existissem sucessivos ciclos de problemas eu preferia a felicidade.
Sou muito equilibrada, vejo tudo com naturalidade, mas deixei de comer, deixei de dormir, deixei de me arrumar, os acontecimentos estavam influenciando minhas ações e eu me perguntava sobre o futuro eu estava com quarenta e dois anos querendo recomeçar do zero e aparentemente o problema dos meus relacionamentos era eu.
Não disse tudo que eu queria dizer, achei que não cabia, se eu estava desistindo porque magoar o outro, ferir em demasia, não fiz muitas concessões, deixei ele livre para ser meu amigo se assim desejasse, desejei do fundo do meu coração felicidades, mas omiti e não verbalizei.
Ao término fui correr para nenhum lugar, sacudi os ombros, alonguei, me senti impotente diante da vida, diante das minhas escolhas, todos os casais ao meu redor pareciam felizes, somente eu tinha um bichinho dentro do peito com exigências supremas.
Eu me empenhei, correspondi esse amor à altura, ele continua a me amar (palavras dele), sou audaciosa e moderninha, sei levar a vida muito bem sozinha, acredito que a bondade deve vir de dentro e quando acho crueldade nas palavras e ódio nos olhos não consigo recomeçar.
 Vez ou outra nos beijamos loucamente, nada fica sempre igual, é uma esperança para ele, mas aparentemente não quero nada, não sinto vazio a ser preenchido, apenas vontade de beijar, beijar, beijar...
Arcise Câmara
Imagem We Heart It


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