quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Acabou!


Muitas vezes eu me agarrei a esperança de mudança, dei espaço para ele respirar, dei poder de decisão, usava qualquer meio para ele ficar ao meu lado, mesmo sem qualquer compromisso, mesmo sem tempo livre.
Senti necessidade de me libertar, de ter espaço e autonomia, de tratar do problema de frente sem os excessos do drama e da mágoa, sem ter sobretudo questões não resolvidas, por motivações inadequadas.
Sonhei o sucesso de um casamento sozinha, cultivei a vaidade, o único resultado imediato que obtive foi um ciúme possessivo e agressivo, algo que psicologicamente me levava para o túmulo da desilusão frente à minha triste realidade.
Consigo mesmo seguir em frente, deixei que ele roubasse minha alegria, nunca tive uma visão realista de uma relação desigual, eu não tinha a menor confiança em mim mesma, eu sentia-me sufocada.
Passei a ser pessimista, lamurienta e justificava que ninguém podia entender minha luta, eu era um ser humano sem confiança, com uma desconfiança ansiosa de que nada daria certo se eu largasse aquele homem.
O mundo me fazia decidir e eu fugia das decisões, eu fiquei estéril e por conta disso não redescobri meu valor, nada tinha sentido nem mesmo minha própria vida expressada de forma negativa e triste.
Neste tempo de comunicação humana escassa eu fiz progressos inaudíveis, viver junto me calou, estar sem apoio me fez uma pessoa menos boa, menos esperançosa, eu me coloquei no mundo sem sair de mim mesma.
Minhas relações interpessoais foram se distanciando de mim, as pessoas eram mais sofisticadas, cheias de aparatos tecnológicos e eu no meu individualismo doentio, sem responder adequadamente a evolução do tempo moderno.
Recebi propostas alienantes, relacionei-me com fugas, fiquei individualizada, nada me comprometia a não ser aquele amor que me escapava cada vez mais que eu me anulava. Eu tinha a impressão de correr, correr e não sair do lugar.
Havia um único caminho que seria a minha atitude adequada diante de tantas coisas absurdas, aceitei meu marido como ele era, sem minimizar suas grosserias e rebeldias, moldei-me ao relacionamento que eu buscava, aquele com uma grandeza sagrada.
A convivência tornou-se uma moléstia, o meu mundo ansiava pelo meu bem-estar pessoal, eu precisava cultivar o cuidado com a aparência, sair da clausura das não razões, sentir que os outros não são superiores a mim.
Passei parte da vida seguindo determinadas normas, sem obter conquistas sociais, pessoais, financeiras, numa vida mais ou menos sem recepções e meticulosamente infeliz. Era uma luta diária com suor no rosto e quando olhei para cima senti-me longe de qualquer objetivo que tracei para mim.
Ressaltei os erros alheios com a minha permissão, troquei o foco e fiquei obcecada pela aparência, fiquei escondida numa aparência religiosa vazia e sem fé de que as coisas iam mudar até que... As coisas mudaram.
Arcise Câmara
Crédito de Imagem: Flickr


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