Muitas vezes
eu me agarrei a esperança de mudança, dei espaço para ele respirar, dei poder
de decisão, usava qualquer meio para ele ficar ao meu lado, mesmo sem qualquer
compromisso, mesmo sem tempo livre.
Senti
necessidade de me libertar, de ter espaço e autonomia, de tratar do problema de
frente sem os excessos do drama e da mágoa, sem ter sobretudo questões não
resolvidas, por motivações inadequadas.
Sonhei o
sucesso de um casamento sozinha, cultivei a vaidade, o único resultado imediato
que obtive foi um ciúme possessivo e agressivo, algo que psicologicamente me
levava para o túmulo da desilusão frente à minha triste realidade.
Consigo
mesmo seguir em frente, deixei que ele roubasse minha alegria, nunca tive uma
visão realista de uma relação desigual, eu não tinha a menor confiança em mim
mesma, eu sentia-me sufocada.
Passei a ser
pessimista, lamurienta e justificava que ninguém podia entender minha luta, eu
era um ser humano sem confiança, com uma desconfiança ansiosa de que nada daria
certo se eu largasse aquele homem.
O mundo me
fazia decidir e eu fugia das decisões, eu fiquei estéril e por conta disso não
redescobri meu valor, nada tinha sentido nem mesmo minha própria vida
expressada de forma negativa e triste.
Neste tempo
de comunicação humana escassa eu fiz progressos inaudíveis, viver junto me
calou, estar sem apoio me fez uma pessoa menos boa, menos esperançosa, eu me
coloquei no mundo sem sair de mim mesma.
Minhas relações
interpessoais foram se distanciando de mim, as pessoas eram mais sofisticadas,
cheias de aparatos tecnológicos e eu no meu individualismo doentio, sem responder
adequadamente a evolução do tempo moderno.
Recebi propostas
alienantes, relacionei-me com fugas, fiquei individualizada, nada me comprometia
a não ser aquele amor que me escapava cada vez mais que eu me anulava. Eu tinha
a impressão de correr, correr e não sair do lugar.
Havia um único
caminho que seria a minha atitude adequada diante de tantas coisas absurdas,
aceitei meu marido como ele era, sem minimizar suas grosserias e rebeldias,
moldei-me ao relacionamento que eu buscava, aquele com uma grandeza sagrada.
A
convivência tornou-se uma moléstia, o meu mundo ansiava pelo meu bem-estar
pessoal, eu precisava cultivar o cuidado com a aparência, sair da clausura das
não razões, sentir que os outros não são superiores a mim.
Passei parte
da vida seguindo determinadas normas, sem obter conquistas sociais, pessoais,
financeiras, numa vida mais ou menos sem recepções e meticulosamente infeliz.
Era uma luta diária com suor no rosto e quando olhei para cima senti-me longe
de qualquer objetivo que tracei para mim.
Ressaltei os
erros alheios com a minha permissão, troquei o foco e fiquei obcecada pela
aparência, fiquei escondida numa aparência religiosa vazia e sem fé de que as
coisas iam mudar até que... As coisas mudaram.
Arcise
Câmara
Crédito de
Imagem: Flickr
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