Aprendi a domar a ansiedade,
segui sem nenhuma trilha, defini a trajetória das minhas escolhas, não era
possível viver para realizar metas dos outros, alguns acreditam que tudo no
universo existe antes mesmo de acontecer. Sou do meio a meio, da sintonia,
destino e livre arbítrio, sou de dar um passo para trás para dar dois passos
para frente.
Precisei de ajuda e acho que
merecia, mas me chamaram de acomodada e que eu não assumia as responsabilidades
pelos meus atos, não fui efetivamente ajudada, fui julgada, isso sim. Julgaram se
eu merecia. Simples assim.
Por que é tão difícil ajudar sem
julgar? Eu renunciei o lado leve da vida com tudo que isso implica, e
felicidade está nas coisas simples, eu precisava me expressar de verdade, falar
tudo que estava dentro.
As coisas com as quais eu me
importava nunca custou dinheiro, sou simples, pés no chão, sou alma e coração,
dou valor a natureza. Fiquei oscilando entre momentos doces e amargos. Muita coisa
passou por mim sem que eu tivesse percebido, sem que eu pudesse refletir e
mudar, sem que eu pudesse entender por que as coisas aconteceram daquela forma,
os ensinamentos foram escorridos pelos dedos.
Pude viver a cada instante de
forma intensa, lúdica e verdadeira, pulei de paraquedas, dormi pelada e andei
da mesma forma pela casa, tomei açaí, comi chocolates, comecei a me encantar
com minha existência em forma de liberdade, mesmo sem ajuda, me reinventei.
Agradeci a Deus todos os dias, mesmo
que eu não tivesse motivos para agradecer, refleti como era interessante o
quanto algumas pessoas têm facilidade em ser feliz. Eu cativava desconhecidos
em meio minuto na fila do banco, por dentro um lixo, por fora, pronta para
ouvir quem queria ser ouvido.
Tenho amizades sólidas, duradouras
e vibrantes, consigo sorrir e chorar junto e desejo as mesmas coisas que desejo
para mim. Sempre tive necessidade de ser compreendida, ouvida, questionada,
respeitada, mas tinha vergonha em pedir ajuda de alguém tão gente boa. É como
se eu não quisesse jogar os meus problemas no colo de ninguém.
A vida é cansativa para quem tem
que se justificar o tempo todo, não importa o que se pensa, tem sempre alguém querendo
mudar sua opinião, como se a nossa não tivesse valor. Eu sempre permiti que as
pessoas contassem comigo quando precisassem, mesmo que não seja uma ajuda
pecuniária.
Chiara Lubich diz que o desejo de
amar, já é amor, mesmo que sua ajuda não seja certa, tentar ajudar faz
diferença. Já suportei dores, fracassos, tédio, fraquezas e imaturidade dos
outros e tenho certeza de que a recíproca foi verdadeira. O melhor de tudo, já
compartilhamos sorrisos, vitórias, alegrias e conquistas.
Ter alguém que acredita na gente
quando nem a gente mesmo acredita faz mudar a vida. Ajudar o mundo sem ajudar a
gente mesmo não funciona, temos que estar inteiros para ser o bem totalitário
ao outro.
Todo relacionamento tem seus
riscos, mas a agressão não deve ser questionada em hipótese alguma. Não podemos
ser fortes ou questionar sentimentos se o tapa entrou na nossa casa, se o
empurrão foi justificado como cabeça quente. Desabafo não muda agressão.
Intimidade não dá o direito do
outro de ser seu dono, não seja discreta com abusos, denuncie sempre. Conte com
a polícia nessas horas difíceis, de preferência a que tem especialidade no
crime que foi cometido contra você. Não tenha vergonha! Você não tem culpa!
Não admita nem deboches e nem falta
de admiração e aceite que o tempo passar depressa mesmo que o relógio não mude
sua rota.
Arcise Câmara
Imagem: bbc
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