Viva a paciência como uma arte, o céu desabrocha para mim
quando acordo motivada a exercer esse hábito. Também exerço o hábito de ser eu
mesma ou de não ser coisa nenhuma. Depende se o hábito está ativo ou não.
A realidade me acertou em cheio, não era fácil conviver
com ele, mas eu me esforçava ao máximo com a minha paciência adquirida, posso ser
uma alma dentro de um corpo, pensava eu.
Tudo felicidadezinhas momentâneas, não havia nada de bom
naquelas lembranças, mas eu era positiva. Tive que me explicar por necessidade
porque estava sentada num bar, tomando vinho com outro homem, 3 meses após o
falecimento do meu esposo. Eu comemorava inconscientemente.
Uma vez que nos decidimos, podemos nos manter firmes na
certeza de que escolhemos o melhor caminho, mas nunca me decidi, a vida foi
tomando decisões por mim e eu fui aceitando.
Não gostei de ter sido colocada nessa situação, mas me
permiti passar por tudo isso. Mudar de hábito exige esforço e eu não me
esforçava, mudar a cabeça é mais difícil ainda.
Para a mulher, o amor não basta. Tem que ter paciência e
companheirismo acoplados, tem que se sentir importante, tem que ter uma vida
satisfatória. Eu me balancei várias
vezes e tive que correr, me esconder e até me acalmar para não trair.
Não era amadurecida, não melhorei como pessoa e não curei
minhas feridas, a vida continuou monótona, meu olhar não tinha nenhuma
expressão, a grande vantagem é que eu tinha muita imaginação e conseguia burlar
meu sofrimento.
Às vezes a minha cabeça pegava fogo, não consegui
acreditar em como fui descaradamente submissa, eu não era classe detentora da
força, não tinha o mecanismo social da sobrevivência.
Foquei em outra direção, o mal não está nas coisas que
nos acontece, o mal está em não enxergar que podemos mudar o curso de tudo
isso, a gente não precisa aceitar o frisson assim, não sem questionar. O destino
me livrou, mas eu não me libertei.
Senti a abismável e inexplicável sensação de vazio, tinha
saudade de uma vida atordoada e infeliz, a gente se acostuma até com
desgraças. Depois refleti que tudo não
passa de um lembrete para seguir em frente agradecida a Deus.
Arcise Câmara
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