quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Quero Viver!


O mundo que eu quero viver, você imagina? - Maristela Mello

Sinto vontade de viver, desculpa para não agir, sempre teremos, motivos para não se cuidar temos de monte, fui parte do problema, não me cuidei e acabei adoecendo.

Minha cabeça estava dividida entre remorso e indiferença, remorso porque adoeci e adoeci quem amava e indiferença por ter acreditado que Deus já sabia quando me criou o que eu sofreria e tudo que aconteceria na minha vida, sem me preocupar com o conselho: Vigiai e Orai!

Por dias desperdicei tempo com pena de mim mesma, eu sei que só passei por esse sofrimento porque eu me arrisquei, eu não estava preparada para reencontrar amigos, a minha imunidade estava baixa o suficiente para não sair de casa.

Eu me escondi atrás de cada dificuldade, fiquei com medo do julgamento, fui debochada com o vírus, quando a cabeça não vai bem, contamina o corpo. Senti raiva de mim mesma e passei a ter raiva e até ódio de quem se comportava como eu me comportei.

Recebi bondade, gentileza, alegria e confiança, mas não tinha força para reagir contra o que me destruía, senti bem na pele o peso da irresponsabilidade. Não foi carência, foi teimosia, foi me achar forte o suficiente para passar ilesa.

A vida significava tudo para mim, mas minhas atitudes é como se nada significasse, se pudesse escolher ou voltar atrás, tomaria outro rumo. O que aconteceu, aconteceu, não dá para voltar atrás, mas tive a chance de consertar e quantos não tiveram essa chance?

Às vezes, muita gente gosta da gente, mas e a gente, que amor temos por nós?

Aprendi a gostar um pouco mais de mim, aprendi a me respeitar e respeitar quem está ao meu redor. Vivemos num mundo cheio de oportunidades, sacrifícios, amor, amizade, autoestima. Vivemos sem a clareza do que queremos e acabamos não conquistando nada porque não há meta.

Como já havia feito algumas vezes, tive a vontade de vencer e pedi uma nova chance, rezava para que tudo passasse, inclinei a cabeça em reverência e com o tempo a mudança foi acontecendo e a preocupação diminuindo.

As chances pareciam mínimas no início, a vida ficou dura, mas o que mais me incomodava era o sentimento de pena que todo mundo sentia. Comecei a ter medo, minha confiança acabou e qualquer pensamento que me leve a me arriscar foi banido.

Nesse tempo dormi bastante, fiquei irritada e grosseira, desleixada, tola e sem equilíbrio emocional. Passei a tomar leite quentinho com tapioca, caldo de galinha e exercitei a prudência.

Esticava as pernas e entendi que precisava ter um bom relacionamento comigo mesma, seguindo todas as orientações médicas e farmacológicas. Muita gente nem sabia o que tinha acontecido comigo, sumi das redes sociais e passei a valorizar o Netflix e os livros.

Eu me tratei sem amor, depois recuperei a contemplação do barulho dos pássaros e o astro e rei Sol. Eu assumi um compromisso comigo mesma e isso refletiu na alimentação, passei a consumir mais chás, mais frutas, mais água. Aliás a ingestão de mais água estava escrita até no meu receituário.

O sol esquentava até cedinho, tinha facilidade em admirar a natureza e por incrível que pareça, curti cada minuto que fiquei em casa, a vista do rio, do teatro, da ponte, espantava os maus pensamentos.

Nunca senti necessidade de aparecer ou ficar me afirmando, mas tinha a necessidade de ser ouvida, amada, entendida que errei e vou usar meu erro para ajudar conscientizar pessoas.

Arcise Câmara
Imagem: Maristela Mello


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