Sinto vontade de viver, desculpa
para não agir, sempre teremos, motivos para não se cuidar temos de monte, fui
parte do problema, não me cuidei e acabei adoecendo.
Minha cabeça estava dividida
entre remorso e indiferença, remorso porque adoeci e adoeci quem amava e indiferença
por ter acreditado que Deus já sabia quando me criou o que eu sofreria e tudo
que aconteceria na minha vida, sem me preocupar com o conselho: Vigiai e Orai!
Por dias desperdicei tempo com
pena de mim mesma, eu sei que só passei por esse sofrimento porque eu me
arrisquei, eu não estava preparada para reencontrar amigos, a minha imunidade
estava baixa o suficiente para não sair de casa.
Eu me escondi atrás de cada
dificuldade, fiquei com medo do julgamento, fui debochada com o vírus, quando a
cabeça não vai bem, contamina o corpo. Senti raiva de mim mesma e passei a ter
raiva e até ódio de quem se comportava como eu me comportei.
Recebi bondade, gentileza,
alegria e confiança, mas não tinha força para reagir contra o que me destruía,
senti bem na pele o peso da irresponsabilidade. Não foi carência, foi teimosia,
foi me achar forte o suficiente para passar ilesa.
A vida significava tudo para mim,
mas minhas atitudes é como se nada significasse, se pudesse escolher ou voltar atrás,
tomaria outro rumo. O que aconteceu, aconteceu, não dá para voltar atrás, mas tive
a chance de consertar e quantos não tiveram essa chance?
Às vezes, muita gente gosta da
gente, mas e a gente, que amor temos por nós?
Aprendi a gostar um pouco mais de
mim, aprendi a me respeitar e respeitar quem está ao meu redor. Vivemos num
mundo cheio de oportunidades, sacrifícios, amor, amizade, autoestima. Vivemos sem
a clareza do que queremos e acabamos não conquistando nada porque não há meta.
Como já havia feito algumas
vezes, tive a vontade de vencer e pedi uma nova chance, rezava para que tudo
passasse, inclinei a cabeça em reverência e com o tempo a mudança foi acontecendo
e a preocupação diminuindo.
As chances pareciam mínimas no
início, a vida ficou dura, mas o que mais me incomodava era o sentimento de
pena que todo mundo sentia. Comecei a ter medo, minha confiança acabou e qualquer
pensamento que me leve a me arriscar foi banido.
Nesse tempo dormi bastante,
fiquei irritada e grosseira, desleixada, tola e sem equilíbrio emocional. Passei
a tomar leite quentinho com tapioca, caldo de galinha e exercitei a prudência.
Esticava as pernas e entendi que
precisava ter um bom relacionamento comigo mesma, seguindo todas as orientações
médicas e farmacológicas. Muita gente nem sabia o que tinha acontecido comigo,
sumi das redes sociais e passei a valorizar o Netflix e os livros.
Eu me tratei sem amor, depois
recuperei a contemplação do barulho dos pássaros e o astro e rei Sol. Eu assumi
um compromisso comigo mesma e isso refletiu na alimentação, passei a consumir
mais chás, mais frutas, mais água. Aliás a ingestão de mais água estava escrita
até no meu receituário.
O sol esquentava até cedinho,
tinha facilidade em admirar a natureza e por incrível que pareça, curti cada
minuto que fiquei em casa, a vista do rio, do teatro, da ponte, espantava os
maus pensamentos.
Nunca senti necessidade de
aparecer ou ficar me afirmando, mas tinha a necessidade de ser ouvida, amada,
entendida que errei e vou usar meu erro para ajudar conscientizar pessoas.
Arcise Câmara
Imagem: Maristela Mello
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