A internet mudou as regras da
propaganda. Habituados a falar sozinhos durante décadas, os anunciantes agora
se espantam com as reações instantâneas dos consumidores e correm para entender
este admirável mundo novo. E muitas vezes acabam fazendo besteira.
Veja o caso desta montadora de
automóveis. Uma moça comprou um carro da marca e descobriu que ele tinha um
defeito grave. Tentou trocá-lo e não conseguiu. Tentou várias outras vezes,
sempre sem sucesso. Aí criou blog contando suas agruras. Qual foi a resposta da
montadora? Processou a moça e conseguiu tirar o blog do ar.
Só que esse "imbróglio" teve
tanta repercussão que o estrago foi grande. Eu, por exemplo, jamais comprarei
um veículo desse fabricante, porque sei que, se eu reclamar de alguma coisa,
eles virão atrás de mim. Multiplique isto milhares de vezes e sinta o tamanho
do prejuízo: teria sido muito mais barato darem logo um carro novo para a tal
da moça.
Tem também o episódio do músico que
despachou sua guitarra num voo de uma grande companhia aérea, só para recebê-la
de volta quebrada. O sujeito reclamou, mas foi enrolado pela aerolinha. Então
gravou três clipes e postou-os na rede. Não só foi indenizado, como conseguiu
que a empresa mudasse seus "policies".
Semana passada, mais um engano do gênero
esteve prestes a acontecer aqui no Brasil. A Rela Gina, que produz os palitos
Gina, cogitou processar o criador da "Gina Indelicada".
Para quem esteve numa caverna nos
últimos dias: a página "Gina Indelicada" surgiu no Facebook no dia 14
de agosto, e em menos de 10 dias já tinha amealhado mais de um milhão de fãs.
Lá, alguém que se passa pela modelo que
ilustra as embalagens dos palitos responde sem papas na língua às perguntas dos
internautas. Sucesso absoluto.
Para dar uma ideia da dimensão desta
façanha, uma grande cadeia de lanchonetes levou mais de um ano para conquistar
um milhão de seguidores em sua página na rede social. E isto com farto apoio de
propaganda, ao custo de alguns milhões de reais.
Sem gastar um centavo, a marca Gina
tornou-se um dos assuntos mais comentados do Brasil. Foi o que fez o pessoal da
empresa mudar de ideia: agora querem propor parceria a Ricck Lopes, o garoto de
19 anos por trás da "Indelicada".
Moral da história: para envolver o
consumidor, a propaganda precisa cada vez mais entreter o consumidor. E no
ambiente virtual, é fundamental que se permita algum tipo de interação: um site
não é uma página de revista, que não admite uma resposta imediata.
Mas também há um outro lado. Cooptada
pelo fabricante, a "Gina Indelicada" pode perder toda sua graça. O
desafio agora é manter os seguidores. Qual a receita para isto? Ninguém sabe.
Os desafios que a internet impõe aos publicitários estão apenas começando.
Fonte:
Tony Goes / Folha de São
Paulo
Nota
Srta.Arcise: Pesquisei no google e identifiquei as empresas Renault e United
Airlines como sujeitos dessa matéria, a última empresa entendeu que a internet tem sua força, já a primeira ficou queimada perante potenciais novos consumidores, no qual me incluo.
Folha.com.
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